Em recente artigo, a revista The Drinks Business foi atrás desta resposta, afinal, nos últimos anos a direção do consumo de vinhos tem se deslocado para fora dos países consumidores (e produtores) tradicionais.
A estimativa é de que 3/4 do crescimento previsto no consumo de vinhos no mundo até 2014 esteja concentrado em três países: EUA, China e Rússia. Baseado nos números obtidos na última Vinexpo, em Bordeaux, enquanto o consumo vem caindo continuamente na Europa, ele crescerá cerca de 10% nos EUA até 2014. Estas constatações levam a crer que os maiores consumidores de vinho ao final deste período serão os seguintes:
1º - EUA
2º - Itália
3º - França
4º - Alemanha
5º - Reino Unido
6º - China
7º - Argentina
8º - Espanha
9º - Rússia
10º - Romênia
Degustar por Luíz Cola
Pesquisar este blog
quinta-feira, agosto 23, 2012
quarta-feira, agosto 08, 2012
Quatro vinhos portugueses no TOP 100 da Wine Spectator
Três tintos do Douro e um do Dão figuram no TOP 100 da Wine Spectator, que anualmente é publicado pela revista norte-americana e tida por muitos como uma bíblia dos vinhos.
O mais bem classificado é o Quinta do Vallado Touriga Nacional 2008, que surge em sétimo lugar, com 95 pontos e no valor de 55 dólares. Segue-se, na 42ª posição, o Quinta de Cabriz 2008 (90 pontos, 9 dólares), no 62º lugar o Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2008 (90 pontos, 46 dólares) e, por fim, o Quinta do Vale Meão 2008, na 64ª posição (95 pontos, 70 dólares).
Publicado em Enonotas
O mais bem classificado é o Quinta do Vallado Touriga Nacional 2008, que surge em sétimo lugar, com 95 pontos e no valor de 55 dólares. Segue-se, na 42ª posição, o Quinta de Cabriz 2008 (90 pontos, 9 dólares), no 62º lugar o Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2008 (90 pontos, 46 dólares) e, por fim, o Quinta do Vale Meão 2008, na 64ª posição (95 pontos, 70 dólares).
Publicado em Enonotas
Vinho é tão eficaz quanto remédios na prevenção da osteoporose em mulheres
Ingestão moderada de álcool após a menopausa ajuda a manter a força dos ossos e abstinência pode aumentar risco de doença óssea
Consumo moderado de vinho ajuda a manter a força dos ossos
O consumo de uma ou duas taças de vinho por dia pode funcionar tão bem quanto o uso de medicamentos na prevenção da osteoporose em mulheres mais velhas, de acordo com pesquisa realizada nos Estados Unidos.
O estudo sugere que a ingestão moderada de álcool após a menopausa ajuda a manter a força dos ossos e que a abstinência pode aumentar o risco de doença óssea.
A equipe liderada pela Universidade de Oregon avaliou 40 mulheres saudáveis na pós-menopausa. Eles mostraram que enquanto as mulheres bebiam 19g de álcool por dia, cerca de dois copos pequenos de vinho, elas tiveram uma redução na perda óssea que melhorou a manutenção da força. Quando as mulheres foram convidadas a parar de beber, sua perda óssea aumentou.
Segundo os pesquisadores, o álcool parece remediar o desequilíbrio entre a dissolução de osso velho e pobre e a produção de osso novo que pode levar à osteoporose em mulheres idosas.
Os dados da pesquisa revelaram que alterações a nível celular ligadas ao álcool ajudaram a explicar por que as consumidoras de álcool muitas vezes tinham maior resistência óssea.
Outros estudos recentes têm mostrado igualmente que o consumo moderado está associado a uma melhor densidade óssea.
Os resultados sugerem que o consumo moderado de álcool é semelhante ao uso de medicamentos bisfosfonatos na prevenção da osteoporose.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores alertam que quantidades moderadas de álcool podem ser benéficas para os ossos, mas o consumo excessivo de álcool pode levar a fraturas, bem como aumentar o risco de quedas.
Fonte: i.saude.net
Consumo moderado de vinho ajuda a manter a força dos ossos
O consumo de uma ou duas taças de vinho por dia pode funcionar tão bem quanto o uso de medicamentos na prevenção da osteoporose em mulheres mais velhas, de acordo com pesquisa realizada nos Estados Unidos.
O estudo sugere que a ingestão moderada de álcool após a menopausa ajuda a manter a força dos ossos e que a abstinência pode aumentar o risco de doença óssea.
A equipe liderada pela Universidade de Oregon avaliou 40 mulheres saudáveis na pós-menopausa. Eles mostraram que enquanto as mulheres bebiam 19g de álcool por dia, cerca de dois copos pequenos de vinho, elas tiveram uma redução na perda óssea que melhorou a manutenção da força. Quando as mulheres foram convidadas a parar de beber, sua perda óssea aumentou.
Segundo os pesquisadores, o álcool parece remediar o desequilíbrio entre a dissolução de osso velho e pobre e a produção de osso novo que pode levar à osteoporose em mulheres idosas.
Os dados da pesquisa revelaram que alterações a nível celular ligadas ao álcool ajudaram a explicar por que as consumidoras de álcool muitas vezes tinham maior resistência óssea.
Outros estudos recentes têm mostrado igualmente que o consumo moderado está associado a uma melhor densidade óssea.
Os resultados sugerem que o consumo moderado de álcool é semelhante ao uso de medicamentos bisfosfonatos na prevenção da osteoporose.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores alertam que quantidades moderadas de álcool podem ser benéficas para os ossos, mas o consumo excessivo de álcool pode levar a fraturas, bem como aumentar o risco de quedas.
Fonte: i.saude.net
O inglês paciente
Steven Spurrier: aulas na Academie du Vin, em Paris.
Em meados dos anos 70, meu interesse por vinho chegara a um ponto em que beber um rótulo já não era suficiente – ao contrário, aumentava minha curiosidade. Como não havia cursos no Brasil, buscava respostas em livros, imaginando conseguir base suficiente para, um dia, me aventurar a ver de perto tudo que lia.
Meu plano era assistir às aulas da Academie du Vin de Paris, cujo mentor, o inglês Steven Spurrier, também tinha uma ótima loja de vinhos, a Caves de la Madeleine, com rótulos diferenciados de pequenos e ótimos produtores. Fiz vários cursos entre 1978 e 1979 – fui contemporâneo de Michel Bettane, hoje o crítico mais respeitado da França – e frequentei a loja. Ali troquei algumas palavras com aquele afável jovem senhor de modos britânicos e profundo conhecimento.
Minha admiração por Spurrier vem daquela época. Sua proposta sempre foi educar o consumidor, desmistificar o vinho e ao mesmo tempo valorizar sua identidade. Isso o levou a organizar inocentemente uma degustação às cegas de rótulos californianos e franceses, que criou celeuma: o resultado apontou vitória dos americanos. O fato de ter sido realizada em Paris dificultou contestações e colocou os vinhos americanos no mapa. A história foi relatada em livro pelo jornalista George Taber e gerou o filme “Battle Shock” (no Brasil, “O Julgamento de Paris”). O roteiro de Hollywood, no entanto, foi financiado pelos donos do Château Montelena, razão de o filme só falar deles. Spurrier ameaçou processá-los, mas acabou aceitando a menção “baseado em uma história verdadeira” – em vez de “historicamente verdadeiro”.
Desanimado com os negócios, voltou à Inglaterra em 1990. Passou a dar consultoria e a escrever livros e artigos, principalmente para a “Decanter”, a mais importante publicação do setor na Inglaterra, onde é consultor editor e “chairman” do Decanter World Wine Awards, concurso de prestígio internacional. Excelente degustador, também preside competições mundo afora. É uma das pessoas que mais respeito no mundo do vinho – e é com grande prazer que transcrevo esta entrevista exclusiva.
Como você começou a se interessar por vinhos?
Minha primeira recordação é de um jantar na véspera do Natal, quando eu tinha uns 14 anos, na casa do meu avô paterno. Quando chegou a hora de beber o vinho do Porto, ele pediu para me servirem uma pequena quantidade. Foi maravilhoso. Perguntei o que era e ele respondeu que era um Cockburn’s 1908. Eu tinha uma coleção de selos e, assim como os selos, o vinho do Porto tinha um país, uma região, um nome e uma data. Na adolescência, pude ler sobre países que produziam vinho, mas raramente o bebia. Até que fui com meus pais e meu irmão passar férias na França e na Itália. Fiquei fascinado com a vida nos cafés e bistrôs, com a convivência em torno do vinho. Minha mãe era boa cozinheira e, embora minha família gostasse de beber, a discussão era mais sobre comida e menos sobre vinho. Eu me aproximei do universo do vinho na London School of Economics (LSE), e aos 21 anos minha avó materna me colocou como membro da The Wine Society, uma espécie de clube de vinhos que também negociava. Comecei a comprar vinhos e a visitar lojas especializadas, o que me deu foco.
Quais foram seus primeiros passos no universo dos vinhos?
Quando saí da LSE, em 1963, consegui empregos temporários, mas decidi seguir o que realmente me interessava: o vinho. Comecei como estagiário na Christopher and Co, os negociantes de vinhos mais antigos de Londres, na função de “rato de adega”, em fevereiro de 1964. Durante a colheita de 1964, passei duas semanas na região de Champagne e outras duas na Borgonha. No ano seguinte, passei sete meses visitando as principais regiões produtoras de vinho da Europa, para experimentá–lo in loco. Se antes eu ainda não estava totalmente apaixonado por vinho, pelos lugares e pessoas, certamente ficaria quando retornei. A Christopher’s não tinha emprego para mim no escritório, então fui trabalhar num pequeno importador, onde fiquei até 1967.
E a ideia de ir para a França?
Enquanto trabalhava na importadora, comprei um pedaço de terra no sul da França. Queria morar lá e foi o que eu e minha mulher fizemos no dia do nosso casamento, em 1968. Passamos três anos ali, mas as coisas deram errado e partimos para Paris, onde fui procurar emprego na área de vinhos. Mas o comércio ali não era como em Londres: havia somente um monte de pequenas lojas de vinho. Acabei comprando uma delas, perto da Place de la Madeleine, chamada Les Caves de la Madeleine, em 1º de abril de 1971. No dia seguinte coloquei um anúncio no jornal “International Herald Tribune” que dizia: “Seu comerciante de vinho fala inglês”. Tinha como alvo os americanos, canadenses e britânicos em Paris. Funcionou, e logo virei um dos melhores “cavistes” da cidade.
Lembro que tinha vinhos diferenciados, de pequenos produtores. E a Academie du Vin?
Fora os clientes regulares, para quem eu vendia de tudo, desde “vin ordinaire” e água mineral até Bordeaux e Borgonhas, comecei a atrair gente realmente interessada em vinho. Passei a ir aos vinhedos à procura de novidades e a mostrar o que encontrava em degustações no fim do dia. Alguns advogados americanos que frequentavam essas degustações perguntaram se eu poderia ensiná-los. Ao mesmo tempo conheci John Winroth, um americano que escrevia sobre o assunto para o “Herald Tribune” e dava cursos nos porões de bares. Criamos aos poucos a proposta de juntar nossos clientes potenciais e demos sorte: a loja vizinha vagou. Aluguei e abrimos a Academie du Vin no fim de 1972.
Os franceses também frequentavam a escola, não?
No início, nossos clientes falavam exclusivamente inglês, mas depois a mídia começou a comentar sobre nós e, por volta de 1975, os cursos eram metade em inglês e metade em francês. Era a primeira escola particular de vinho na França e o único lugar para aprender sobre o assunto em Paris, uma espécie de Cordon Bleu de vinho. Naquela época começou também a “nouvelle cuisine”, e crescia muito o interesse por vinho. Fizemos muita coisa com Lucien Legrand, cuja loja era um paraíso para apreciadores da bebida, e ainda é. Era fácil estar na ponta para uma pessoa jovem e apaixonada como eu, mas ajudou muito a confiança que grandes cavistes, como Legrand, depositaram em mim. Em meados dos anos 70, “le jeune anglais” e sua equipe inglesa eram plenamente aceitos pela sociedade parisiense.
Quando e por que você teve a iniciativa de propor o “Julgamento de Paris”?
Tudo corria bem com a Academie du Vin e, para nós, era fácil organizar grandes degustações. Nós também éramos ponto de parada para produtores da Califórnia, que traziam seus vinhos para os degustarmos, e ficou claro para mim que seus cabernets e chardonnays eram excelentes. Decidimos realizar uma prova desses vinhos, escolhidos apenas entre pequenas vinícolas, para mostrar aos formadores de opinião o que estava acontecendo por lá. Nessa altura, Winroth já havia se afastado por problemas de saúde e minha sócia, Patricia Gallagher, foi à Califórnia para pesquisá-los melhor, voltando cheia de elogios. Ela já havia me dado a ideia de promover a degustação. Fui em abril de 1976 para fazer a seleção final.
A proposta inicial, então, não era confrontar vinhos americanos e franceses?
Não era. Estávamos acostumados a realizar eventos. Como éramos respeitados, não foi problema reunir nove degustadores, os melhores que existiam. O plano era apenas fazer o painel – convidamos a imprensa, mas ninguém apareceu –, provar os vinhos e comentá-los, mas depois percebi que só Aubert de Villaine, do Domaine de la Romanée-Conti, havia degustado um californiano antes. Os outros, apesar das boas intenções, poderiam muito bem dispensá-los com fracos elogios, como vindos de regiões vinícolas de clima quente. Então, decidi introduzir quatro brancos da Borgonha e quatro tintos de Bordeaux para compará-los com seis chardonnays e seis cabernets da Califórnia e servi-los às cegas, pedindo que todos fossem classificados numa escala até 20 pontos. Os juízes não esperavam isso, então eu disse a eles o que eu pretendia fazer antes de a degustação começar, e todos concordaram.
Você esperava aquele resultado?
Não, eu não esperava. Imaginava que os californianos poderiam alcançar, vamos dizer, segundo e quarto lugares, ou terceiro e quinto. Eu não esperava que um deles ficasse em primeiro lugar, e você pode supor isso pela qualidade dos vinhos franceses que incluí. O resultado foi de estupefação. Ninguém discordou que os californianos eram bons, mas o fato de terem derrotado o melhor do vinho francês era quase inacreditável. Tudo o que eu queria era o reconhecimento de que havia alguns vinhos muito bons feitos por vinícolas “boutique” na Califórnia. Isso eu consegui fazer. Mas não era o resultado que eu procurava. No entanto, testes subsequentes, particularmente dos tintos, têm provado que os vinhos da Califórnia não só eram dignos de seus rankings, mas que melhoraram em relação aos de Bordeaux com o passar do tempo. O Chateau Montelena Chardonnay 1973 provou ser consistentemente bom em degustações posteriores.
Você acha que o fato de os vinhos americanos serem produzidos para ser consumidos mais cedo influenciou o resultado?
Esta foi a reclamação contra o Julgamento de Paris. Para tirar a dúvida, realizei uma degustação com os mesmos tintos dez anos mais tarde, em Nova York, com nove grandes experts. Novamente, os californianos se saíram melhor, com o Clos du Val 1972 em primeiro lugar, o Stag’s Leap em segundo e, se não me engano, o Ridge Montebello 1971 em quarto. Houve a mesma prova em 1986, que eu não organizei. Mas fui convencido a supervisionar outra, depois de 30 anos, simultaneamente em Napa e em Londres. Nesta, os tintos da Califórnia levaram os cinco primeiros lugares, com Mouton-Rothschild em sexto e o Freemark Abbey em último. Isto provou que os tintos da Califórnia eram bons não apenas quando jovens, mas que tinham qualidades duradouras. Também provou, como subsequentemente se admitiu, que, no início dos anos 70, tanto Bordeaux quanto Borgonha estavam descansando sobre os louros – não existia concorrência para eles naquele momento – e havia pouca seleção nos vinhedos. Houve colheitas de alta produtividade e pouquíssimos “segundos” vinhos, enquanto as pequenas vinícolas da Califórnia tiveram de fazer enormes esforços para fazer o melhor possível. Nas degustações realizadas em 2006, quando fizemos uma comparação com tintos da colheita de 2000, e desta vez não às cegas, os Bordeaux colocaram abaixo os californianos, o que mostrou que o inverso estava acontecendo: naquele momento, era a Califórnia que estava descansando sobre seus louros.
Quais foram as principais mudanças em trinta anos?
O progresso nos anos 70 e início dos 80 estava nas adegas – Califórnia e Austrália foram os primeiros e principais exemplos disto – e, desde o fim dos anos 80, tem sido no vinhedo. A adega pode salvar um vinho ruim, mas não pode fazer um bom vinho. Do lado do consumo, as pessoas não são preparadas para gastar com vinhos bons, diferenciados. O consumidor insiste em pechinchas, e os vinhos que atendem a esse preço são produzidos de forma industrial – não podem ter individualidade nem ser identificados com sua origem.
O estilo também mudou. Os vinhos europeus correm perigo?
Se os vinhos europeus estão em perigo, e estão, é muito mais devido ao grande declínio no consumo local – na França, caiu pela metade em 20 anos – do que à qualidade, que nunca esteve melhor. Fora os grandes nomes e alguns pequenos com reputação internacional, os produtores muitas vezes não têm os meios para fazer e vender seus vinhos. Eles vão se dar conta de que não conseguem exportar, e isso vai ser uma má notícia. A maioria dos governos europeus está fazendo muito pouco para apoiar seus produtores.
Você acredita na globalização do gosto do vinho?
Acho que há, sim, uma globalização do gosto. Olhe para a Coca-Cola e para o McDonald’s. É a base da pirâmide. Mas essa base sempre existiu. Nos países produtores de vinho na Europa, até recentemente, ninguém bebia nada que não fosse o vinho de sua região – mas talvez isso acontecesse por falta de informação. Hoje, com tanto acesso e o desejo de experimentar coisas novas, a maior chance é de que as pessoas vão olhar para as diferenças ao consumir vinho. Elas só vão beber o que apreciam, mas há tantos estilos diferentes que, se não quiserem experimentar, a culpa será só de si mesmas. Por muitas razões, sou otimista quanto ao futuro do consumo de vinho.
Por Jorge Lucki | Valor
Em meados dos anos 70, meu interesse por vinho chegara a um ponto em que beber um rótulo já não era suficiente – ao contrário, aumentava minha curiosidade. Como não havia cursos no Brasil, buscava respostas em livros, imaginando conseguir base suficiente para, um dia, me aventurar a ver de perto tudo que lia.
Meu plano era assistir às aulas da Academie du Vin de Paris, cujo mentor, o inglês Steven Spurrier, também tinha uma ótima loja de vinhos, a Caves de la Madeleine, com rótulos diferenciados de pequenos e ótimos produtores. Fiz vários cursos entre 1978 e 1979 – fui contemporâneo de Michel Bettane, hoje o crítico mais respeitado da França – e frequentei a loja. Ali troquei algumas palavras com aquele afável jovem senhor de modos britânicos e profundo conhecimento.
Minha admiração por Spurrier vem daquela época. Sua proposta sempre foi educar o consumidor, desmistificar o vinho e ao mesmo tempo valorizar sua identidade. Isso o levou a organizar inocentemente uma degustação às cegas de rótulos californianos e franceses, que criou celeuma: o resultado apontou vitória dos americanos. O fato de ter sido realizada em Paris dificultou contestações e colocou os vinhos americanos no mapa. A história foi relatada em livro pelo jornalista George Taber e gerou o filme “Battle Shock” (no Brasil, “O Julgamento de Paris”). O roteiro de Hollywood, no entanto, foi financiado pelos donos do Château Montelena, razão de o filme só falar deles. Spurrier ameaçou processá-los, mas acabou aceitando a menção “baseado em uma história verdadeira” – em vez de “historicamente verdadeiro”.
Desanimado com os negócios, voltou à Inglaterra em 1990. Passou a dar consultoria e a escrever livros e artigos, principalmente para a “Decanter”, a mais importante publicação do setor na Inglaterra, onde é consultor editor e “chairman” do Decanter World Wine Awards, concurso de prestígio internacional. Excelente degustador, também preside competições mundo afora. É uma das pessoas que mais respeito no mundo do vinho – e é com grande prazer que transcrevo esta entrevista exclusiva.
Como você começou a se interessar por vinhos?
Minha primeira recordação é de um jantar na véspera do Natal, quando eu tinha uns 14 anos, na casa do meu avô paterno. Quando chegou a hora de beber o vinho do Porto, ele pediu para me servirem uma pequena quantidade. Foi maravilhoso. Perguntei o que era e ele respondeu que era um Cockburn’s 1908. Eu tinha uma coleção de selos e, assim como os selos, o vinho do Porto tinha um país, uma região, um nome e uma data. Na adolescência, pude ler sobre países que produziam vinho, mas raramente o bebia. Até que fui com meus pais e meu irmão passar férias na França e na Itália. Fiquei fascinado com a vida nos cafés e bistrôs, com a convivência em torno do vinho. Minha mãe era boa cozinheira e, embora minha família gostasse de beber, a discussão era mais sobre comida e menos sobre vinho. Eu me aproximei do universo do vinho na London School of Economics (LSE), e aos 21 anos minha avó materna me colocou como membro da The Wine Society, uma espécie de clube de vinhos que também negociava. Comecei a comprar vinhos e a visitar lojas especializadas, o que me deu foco.
Quais foram seus primeiros passos no universo dos vinhos?
Quando saí da LSE, em 1963, consegui empregos temporários, mas decidi seguir o que realmente me interessava: o vinho. Comecei como estagiário na Christopher and Co, os negociantes de vinhos mais antigos de Londres, na função de “rato de adega”, em fevereiro de 1964. Durante a colheita de 1964, passei duas semanas na região de Champagne e outras duas na Borgonha. No ano seguinte, passei sete meses visitando as principais regiões produtoras de vinho da Europa, para experimentá–lo in loco. Se antes eu ainda não estava totalmente apaixonado por vinho, pelos lugares e pessoas, certamente ficaria quando retornei. A Christopher’s não tinha emprego para mim no escritório, então fui trabalhar num pequeno importador, onde fiquei até 1967.
E a ideia de ir para a França?
Enquanto trabalhava na importadora, comprei um pedaço de terra no sul da França. Queria morar lá e foi o que eu e minha mulher fizemos no dia do nosso casamento, em 1968. Passamos três anos ali, mas as coisas deram errado e partimos para Paris, onde fui procurar emprego na área de vinhos. Mas o comércio ali não era como em Londres: havia somente um monte de pequenas lojas de vinho. Acabei comprando uma delas, perto da Place de la Madeleine, chamada Les Caves de la Madeleine, em 1º de abril de 1971. No dia seguinte coloquei um anúncio no jornal “International Herald Tribune” que dizia: “Seu comerciante de vinho fala inglês”. Tinha como alvo os americanos, canadenses e britânicos em Paris. Funcionou, e logo virei um dos melhores “cavistes” da cidade.
Lembro que tinha vinhos diferenciados, de pequenos produtores. E a Academie du Vin?
Fora os clientes regulares, para quem eu vendia de tudo, desde “vin ordinaire” e água mineral até Bordeaux e Borgonhas, comecei a atrair gente realmente interessada em vinho. Passei a ir aos vinhedos à procura de novidades e a mostrar o que encontrava em degustações no fim do dia. Alguns advogados americanos que frequentavam essas degustações perguntaram se eu poderia ensiná-los. Ao mesmo tempo conheci John Winroth, um americano que escrevia sobre o assunto para o “Herald Tribune” e dava cursos nos porões de bares. Criamos aos poucos a proposta de juntar nossos clientes potenciais e demos sorte: a loja vizinha vagou. Aluguei e abrimos a Academie du Vin no fim de 1972.
Os franceses também frequentavam a escola, não?
No início, nossos clientes falavam exclusivamente inglês, mas depois a mídia começou a comentar sobre nós e, por volta de 1975, os cursos eram metade em inglês e metade em francês. Era a primeira escola particular de vinho na França e o único lugar para aprender sobre o assunto em Paris, uma espécie de Cordon Bleu de vinho. Naquela época começou também a “nouvelle cuisine”, e crescia muito o interesse por vinho. Fizemos muita coisa com Lucien Legrand, cuja loja era um paraíso para apreciadores da bebida, e ainda é. Era fácil estar na ponta para uma pessoa jovem e apaixonada como eu, mas ajudou muito a confiança que grandes cavistes, como Legrand, depositaram em mim. Em meados dos anos 70, “le jeune anglais” e sua equipe inglesa eram plenamente aceitos pela sociedade parisiense.
Quando e por que você teve a iniciativa de propor o “Julgamento de Paris”?
Tudo corria bem com a Academie du Vin e, para nós, era fácil organizar grandes degustações. Nós também éramos ponto de parada para produtores da Califórnia, que traziam seus vinhos para os degustarmos, e ficou claro para mim que seus cabernets e chardonnays eram excelentes. Decidimos realizar uma prova desses vinhos, escolhidos apenas entre pequenas vinícolas, para mostrar aos formadores de opinião o que estava acontecendo por lá. Nessa altura, Winroth já havia se afastado por problemas de saúde e minha sócia, Patricia Gallagher, foi à Califórnia para pesquisá-los melhor, voltando cheia de elogios. Ela já havia me dado a ideia de promover a degustação. Fui em abril de 1976 para fazer a seleção final.
A proposta inicial, então, não era confrontar vinhos americanos e franceses?
Não era. Estávamos acostumados a realizar eventos. Como éramos respeitados, não foi problema reunir nove degustadores, os melhores que existiam. O plano era apenas fazer o painel – convidamos a imprensa, mas ninguém apareceu –, provar os vinhos e comentá-los, mas depois percebi que só Aubert de Villaine, do Domaine de la Romanée-Conti, havia degustado um californiano antes. Os outros, apesar das boas intenções, poderiam muito bem dispensá-los com fracos elogios, como vindos de regiões vinícolas de clima quente. Então, decidi introduzir quatro brancos da Borgonha e quatro tintos de Bordeaux para compará-los com seis chardonnays e seis cabernets da Califórnia e servi-los às cegas, pedindo que todos fossem classificados numa escala até 20 pontos. Os juízes não esperavam isso, então eu disse a eles o que eu pretendia fazer antes de a degustação começar, e todos concordaram.
Você esperava aquele resultado?
Não, eu não esperava. Imaginava que os californianos poderiam alcançar, vamos dizer, segundo e quarto lugares, ou terceiro e quinto. Eu não esperava que um deles ficasse em primeiro lugar, e você pode supor isso pela qualidade dos vinhos franceses que incluí. O resultado foi de estupefação. Ninguém discordou que os californianos eram bons, mas o fato de terem derrotado o melhor do vinho francês era quase inacreditável. Tudo o que eu queria era o reconhecimento de que havia alguns vinhos muito bons feitos por vinícolas “boutique” na Califórnia. Isso eu consegui fazer. Mas não era o resultado que eu procurava. No entanto, testes subsequentes, particularmente dos tintos, têm provado que os vinhos da Califórnia não só eram dignos de seus rankings, mas que melhoraram em relação aos de Bordeaux com o passar do tempo. O Chateau Montelena Chardonnay 1973 provou ser consistentemente bom em degustações posteriores.
Você acha que o fato de os vinhos americanos serem produzidos para ser consumidos mais cedo influenciou o resultado?
Esta foi a reclamação contra o Julgamento de Paris. Para tirar a dúvida, realizei uma degustação com os mesmos tintos dez anos mais tarde, em Nova York, com nove grandes experts. Novamente, os californianos se saíram melhor, com o Clos du Val 1972 em primeiro lugar, o Stag’s Leap em segundo e, se não me engano, o Ridge Montebello 1971 em quarto. Houve a mesma prova em 1986, que eu não organizei. Mas fui convencido a supervisionar outra, depois de 30 anos, simultaneamente em Napa e em Londres. Nesta, os tintos da Califórnia levaram os cinco primeiros lugares, com Mouton-Rothschild em sexto e o Freemark Abbey em último. Isto provou que os tintos da Califórnia eram bons não apenas quando jovens, mas que tinham qualidades duradouras. Também provou, como subsequentemente se admitiu, que, no início dos anos 70, tanto Bordeaux quanto Borgonha estavam descansando sobre os louros – não existia concorrência para eles naquele momento – e havia pouca seleção nos vinhedos. Houve colheitas de alta produtividade e pouquíssimos “segundos” vinhos, enquanto as pequenas vinícolas da Califórnia tiveram de fazer enormes esforços para fazer o melhor possível. Nas degustações realizadas em 2006, quando fizemos uma comparação com tintos da colheita de 2000, e desta vez não às cegas, os Bordeaux colocaram abaixo os californianos, o que mostrou que o inverso estava acontecendo: naquele momento, era a Califórnia que estava descansando sobre seus louros.
Quais foram as principais mudanças em trinta anos?
O progresso nos anos 70 e início dos 80 estava nas adegas – Califórnia e Austrália foram os primeiros e principais exemplos disto – e, desde o fim dos anos 80, tem sido no vinhedo. A adega pode salvar um vinho ruim, mas não pode fazer um bom vinho. Do lado do consumo, as pessoas não são preparadas para gastar com vinhos bons, diferenciados. O consumidor insiste em pechinchas, e os vinhos que atendem a esse preço são produzidos de forma industrial – não podem ter individualidade nem ser identificados com sua origem.
O estilo também mudou. Os vinhos europeus correm perigo?
Se os vinhos europeus estão em perigo, e estão, é muito mais devido ao grande declínio no consumo local – na França, caiu pela metade em 20 anos – do que à qualidade, que nunca esteve melhor. Fora os grandes nomes e alguns pequenos com reputação internacional, os produtores muitas vezes não têm os meios para fazer e vender seus vinhos. Eles vão se dar conta de que não conseguem exportar, e isso vai ser uma má notícia. A maioria dos governos europeus está fazendo muito pouco para apoiar seus produtores.
Você acredita na globalização do gosto do vinho?
Acho que há, sim, uma globalização do gosto. Olhe para a Coca-Cola e para o McDonald’s. É a base da pirâmide. Mas essa base sempre existiu. Nos países produtores de vinho na Europa, até recentemente, ninguém bebia nada que não fosse o vinho de sua região – mas talvez isso acontecesse por falta de informação. Hoje, com tanto acesso e o desejo de experimentar coisas novas, a maior chance é de que as pessoas vão olhar para as diferenças ao consumir vinho. Elas só vão beber o que apreciam, mas há tantos estilos diferentes que, se não quiserem experimentar, a culpa será só de si mesmas. Por muitas razões, sou otimista quanto ao futuro do consumo de vinho.
Por Jorge Lucki | Valor
Assinar:
Postagens (Atom)