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segunda-feira, agosto 03, 2015

Cultivo de oliveiras aumenta, e azeite nacional ganha mercado

Plantio de oliveiras em Barra do Ribeiro: produção gaúcha tende a ganhar força

Um mercado consumidor em expansão, dominado quase que inteiramente por produtos importados, e a expectativa de ganhos até 15 vezes superiores aos obtidos com a soja estão provocando uma febre de cultivo de oliveiras para produção de azeite no Rio Grande do Sul.
Os primeiros pomares, de apenas 6 hectares, começaram a ser plantados em 2002 em Caçapava do Sul, a 260 quilômetros de Porto Alegre, mas nesta safra a área total no Estado já somou 1,4 mil hectares, distribuídos por 35 municípios. Para a Secretaria da Agricultura do Estado, é "razoável" considerar que a área alcançará cerca de 10 mil hectares em cinco anos.
De acordo com o engenheiro agrônomo Tailor Garcia, da Emater-RS, o consumo per capita de azeite no Brasil avançou de 200 mililitros para 400 mililitros por ano desde 2005, enquanto em países como Portugal, Espanha, Itália e Grécia passa de 10 litros. Menos de 1% da demanda brasileira é suprida pela produção nacional, e o Rio Grande do Sul tem cerca de 70% da área plantada no país, afirma. Os outros dois polos de produção ficam em São Paulo e Minas Gerais, na Serra da Mantiqueira.
Todo o azeite produzido no Rio Grande do Sul é da categoria extravirgem, que admite acidez máxima de 0,8%, afirma Garcia. A maior parte não passa de 0,5% e há produtores como o peruano Fernando Rotondo, dono da Olivopampa, de Santana do Livramento, que chegam a 0,2% ou até 0,1%. Segundo ele, na média os produtos importados são de qualidade inferior aos nacionais e, quando os padrões são equivalentes, o custo dos estrangeiros é mais elevado por conta do frete, dos impostos e do câmbio. Neste momento, a redução da produção em países como Itália e Espanha também colabora para inflar os preços no mercado global.
Um exemplo é o azeite espanhol Oro Bailen, com 0,17% de acidez, importado pelo próprio Rotondo e vendido em lojas especializadas por quase R$ 300 o litro. Segundo o empresário, um produto similar da empresa, da marca Ouro de Santana, chega ao consumidor por R$ 100. Na média, os produtores do Estado falam em preços de R$ 60 e 100 por litro tanto nas vendas diretas quanto no varejo, a maior parte no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. Os preços quase dobraram em relação ao ano passado em alguns casos, por conta da quebra da safra.

A metade sul do Rio Grande do Sul é a melhor região do país para a cultura apontada no zoneamento climático da Embrapa devido à intensidade do frio no inverno e ao verão quente e ensolarado, diz Garcia, da Emater-RS. Os pomares são perenes, a floração acontece entre o inverno e a primavera e a colheita ocorre em fevereiro e março. A área potencial de plantio no Estado, segundo a Embrapa, é de 1 milhão de hectares, mas 60 mil seriam suficientes para abastecer todo o mercado interno, calcula o agrônomo.
Neste ano, a safra de azeitonas caiu para 100 toneladas, ante 300,6 em 2014, porque o excesso de umidade no inverno e na primavera passadas prejudicou as raízes e a polinização das plantas. Com praticamente toda a colheita destinada à produção de azeite, Garcia calcula que a produção deve cair de 30 mil para 15 mil litros, considerando a média de rendimento de 15% da massa dos frutos em óleo, embora no ano passado o índice tenha ficado em 10%.
A área plantada subiu de 1,3 mil para 1,4 mil hectares de uma colheita para outra, mas as oliveiras só começam a produzir a partir do terceiro ou quarto ano de vida, e o volume aumenta ao longo do tempo. Com clima favorável e na média recomendada de 300 plantas por hectare, o rendimento médio chega a 6 toneladas de azeitona por hectare no sexto e no sétimo ano e alcança nove toneladas a partir do décimo ano, calcula o agrônomo.

Conforme Daniel Aued, sócio da empresa Olivas do Sul, de Cachoeira do Sul, um hectare de oliveiras produzindo a pleno vapor pode render até R$ 35 mil líquidos por safra para quem também extrai o azeite e R$ 9 mil para quem vende a produção à indústria, descontados apenas os custos variáveis. O valor chega a ser 15 vezes maior que o ganho líquido de R$ 2,3 mil por hectare estimado neste ciclo para os sojicultores pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro).
Garcia faz uma projeção mais modesta, de até R$ 15 mil por hectare, abatidas as despesas variáveis, levando em conta uma média de seis toneladas de azeitonas por hectare e um ganho de R$ 20 por litro de azeite vendido. "O preço [do óleo] tende a cair com o aumento da produção", entende. De acordo com ele, a implantação dos pomares custa em média R$ 10,7 mil por hectare e as despesas posteriores com manejo e manutenção variam entre R$ 3 mil e R$ 3,5 mil por hectare por ano.
Na semana passada, o governo estadual lançou um programa de estímulo à cultura, que prevê desde reforço na assistência técnica até linhas de crédito de R$ 10 milhões para o segmento por meio do Banrisul e do Badesul, ambos controlados pelo Estado. Acordos semelhantes devem ser firmados com o Banco do Brasil, BRDE e Sicredi. Conforme o secretário de Desenvolvimento Rural, Tarcísio Minetto, desde os primeiros plantios os investimentos dos produtores no segmento já somam cerca de R$ 30 milhões.
Por Sérgio Ruck Bueno | De Porto Alegre



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