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quarta-feira, outubro 17, 2007

A Expressão do Terroir Gaucho

Surpresas e Descobertas

Acabo de voltar do Rio Grande do Sul, depois de uma semana redescobrindo o terroir gaúcho e visitando as principais regiões produtoras da Miolo, em companhia dos consultores de vinhos José Schiffini (do Rio) e Gerson Lopes, (de Belo Horizonte) e do enólogo e principal executivo da Miolo, Adriano Miolo.

Há mais de cinco anos não ia ao Vale dos Vinhedos e voltei de lá tocado pela beleza e pela seriedade do trabalho que está sendo desenvolvido na região, com importantes investimentos na identificação de novos terroirs, na modernização das práticas agrícolas e de cantina e até mesmo na ampliação do enoturismo na região.

Esta foi realmente uma viagem de surpresas, descobertas e muito encanto ....excelentes vinhos (degustamos 71 entre espumantes, brancos, roses e tintos) e maravilhosa receptividade da família Miolo, que segue trabalhando em conjunto (tios, primos, irmãos), já com a quarta geração à frente dos negócios.

Regiões produtoras e seus principais vinhos

Antes de falar sobre cada região produtora e seus vinhos mais expressivos, gostaria de lembrar o que significa a expressão francesa Terroir.

Terroir identifica os quatro elementos fundamentais de um vinho: o solo, o clima, a cepa e a interferência do homem.

E é neste conceito que os principais produtores da região sul vem trabalhando: na busca da melhor expressão de cada cepa, em cada região, realizando as melhores práticas existentes no mercado viti-vinicultor e, assim, fazendo cair por terra o “dito popular” de que no Brasil não há como se fazer bons vinhos tintos. A Miolo está presente nas cinco principais regiões produtoras de vinhos finos do Rio Grande do Sul: Vale dos Vinhedos (tradicional , mas em plena renovação), Campanha (descoberta de um novo e promissor terroir), Campos de Cima da Serra (parceria com Raul Randon na elaboração do vinho RAR) e Serra Gaúcha (uma parceria com a tradicional Lovara).

Vale dos Vinhedos


Aqui começou a história da vinicultura gaúcha e também a história da família Miolo no Brasil, quando em 1897, Giuseppe Miolo, um imigrante italiano, chega à região de Bento Gonçalves e troca suas economias por um lote de terras no Lote 43.

Hoje, no lote 43, está instalada a vinícola Miolo, criada no final da década de 80, após quase 100 anos de tradição familiar no plantio de uvas. São 450 hectares plantados na região (sendo 120 da família e o restante, integrados com 80 produtores de uvas).

Na vinícola, degustamos 44 vinhos de diversas linhas (Seleção, Reserva e Premium) e também vinhos de outros projetos: Vale do São Francisco, no Nordeste brasileiro; vinhos da parceria com a vinícola espanhola Osborne e vinhos da Viasul, parceria com a vinícola chilena Via Wines.

Com relação aos vinhos do Vale dos Vinhedos, degustamos as linhas Seleção (safras de 2003 a 2006) e Reserva (safras de 2002 a 2006). Vale ressaltar o ganho de qualidade e a evolução destes vinhos a cada ano.

Quanto aos vinhos Premium, a degustação também revelou um ganho de qualidade nas safras mais recentes, conseqüência do trabalho e do cuidado com os vinhedos e da modernização na cantina. Gostei muito do Cuvée Giuseppe (um corte de 60% Cabernet Sauvignon e 40% de Merlot); do Merlot Terroir (elaborado com as melhores parcelas de vinhedos Merlot do Vale dos Vinhedos) e como não falar também do emblemático Lote 43, elaborado justamente com as uvas Cabernet e Merlot, cultivadas no Lote 43 e vinificado apenas em anos excepcionais. A safra que está hoje no mercado do Lote 43 é a de 2004, que embora ainda jovem, demonstra um vinho com grande potencial de guarda e evolução. E a safra 2005, que ainda está envelhecendo na vinícola, também promete.

Região da Campanha

A Campanha foi a grande surpresa desta viagem. Distante 500 quilômetros do Vale dos Vinhedos, quase na fronteira com o Uruguai, está a Estância Fortaleza do Seival, um dos mais arrojados projetos vinícolas atuais, e que já está produzindo vinhos muito interessantes, como o Quinta do Seival e o Fortaleza do Seival.

O projeto foi iniciado há seis anos e tem previsão de implantação de 400 hectares de vinhedos até 2012. No meio dos vinhedos, segue, em fase final de construção, a mais nova vinícola da Miolo, com investimentos estimados em R$ 15 milhões, e que vinificará toda a produção da Estância.

Degustamos 12 vinhos das linhas Fortaleza e Quinta do Seival. Destaco da linha Fortaleza do Seival o Pinot Grigio 2007, cítrico e fresco, com boa boca e acidez viva e o Pinot Noir, elegante e expressivo, com uma fruta bem fresca e taninos macios, estilo novo mundo. Vinhos com excelente relação custo benefício.

Da linha Quinta do Seival, provamos o Cabernet Sauvignon (safras de 2004 a 2006), que se mostrou surpreendente. Podemos até arriscar a dizer que este talvez seja o melhor Cabernet Sauvignon da Miolo. È um Cabernet elegante, sem aromas herbáceos e madeira bem equilibrada.

Degustamos também o Quinta do Seival Castas Portuguesas (safras de 2003 a 2006). Este é o primeiro vinho brasileiro feito com estas uvas (Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz). Estes vinhos passam um ano em barricas francesas e um ano envelhecendo na garrafa, antes de irem para o mercado. Os vinhedos já estão com seis anos e os vinhos tendem a melhorar a cada ano. A safra 2004 é a que está no mercado, a 2005 está envelhecendo na garrafa (ainda nas caves da vinícola) e a 2006 ainda está na barrica. Está última safra é a mais estruturada delas e chega ao mercado em 2009.

Campos de Cima da Serra

Esta é mais uma região que surpreende. É uma das mais frias e mais altas (1.000 metros de altitude) regiões vinícolas do Rio Grande do Sul. A aliança da Miolo com o famoso (e um dos maiores empresários gaúchos) Raul Anselmo Randon resultou na produção do vinho RAR.





O RAR é um vinho Premium com um corte de Cabernet Sauvignon e Merlot, provenientes dos vinhedos do empresário, sob a supervisão da Miolo, que também faz a vinificação. Degustamos as safras de 2002 a 2005. Vinhos potentes, elegantes e equilibrados, com bom potencial de guarda. A safra atualmente no mercado, a de 2004, está elegante e macia, com taninos finos, mas ainda em evolução.



Outra grande surpresa foi o encontro com o próprio Raul Randon, que nos recebeu em sua fazenda para a degustação do RAR e do seu famoso Grand Formaggio (queijo tipo Grana Padano), que não deve nada a nenhum similar italiano.

Serra Gaucha

A Serra Gaúcha está localizada na região da Serra do Nordeste do Rio Grande do Sul, sendo uma área de pequenas propriedades agrícolas, de em média dois hectares cada. A Lovara é mais uma parceira da Miolo na produção de vinhos Premium, buscando a tipicidade de cada terroir.

A Lovara (da família Benedetti Tecchio) produz vinhos desde 1967, sendo uma das vinícolas mais antigas do Brasil. A vinícola vem se dedicando a produzir vinhos varietais (isto é, com a predominância de uma única casta) e sem passagem em madeira, conferindo aos vinhos um frescor quando jovem e mantendo a tipicidade da uva. Nesta linha de trabalho, destacam-se o Riesling Itálico, o Merlot e o Cabernet Sauvignon.

Como novidade acaba de chegar ao mercado o Grand Lovara 2005, produzido a partir de um corte de Merlot (60%), Cabernet Sauvignon (25%) e Tannat (15%). Vinho de coloração intensa (com forte presença de aromas frutados) e um leve toque de carvalho, uma vez que passou 12 meses estagiando em barricas de carvalho francês e americano. É um vinho bem estruturado, com grande volume de boca, com taninos jovens, mas elegantes, que indicam uma boa evolução na garrafa.

Na próxima semana, continuamos falando do Sul.

Até lá!

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