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segunda-feira, novembro 30, 2009

Degustação de Borgonhas










Com a popularização do vinho no Brasil, as reuniões de amigos apaixonados pela bebida aumentam em progressão geométrica. É uma verdadeira explosão de confrarias. Há de tudo. Só de mulheres, só de vinhos portugueses, até uma dedicada ao ícone chileno Don Melchor.

Eu também tenho lá as minhas. A Confraria dos Nove se reúne mensalmente para degustar às cegas vinhos para a Programa. Freqüento também a confraria do balde seco, em cujas reuniões não sobram taças sobre taças. E, desde agosto, fui convidado a participar de uma agradabilíssima confraria, que também promove encontros mensais, e que nem nome tem. A cada mês, um tema diferente. Já houve Espanha, Rhône, Austrália.

Na última terça-feira, o tema foi a Borgonha. E foi um daqueles almoços que ficam por eras na memória. Além do colunista, participaram do encontro os confrades Alexandre Henriques, António Campos, Jorge Sales, José Crescencio, Paulo Nicolay, Paulo Pinho e Roger Khouri.
Para começar, confusão. A reunião deveria ser no Esplanada Grill. Mas a falta de energia em Ipanema quase adiou o encontro. Muda daqui, ajeita dali, e a farra se mudou, de mala e cuia, para o Laguiole, no MAM. Meio que de improviso, o confrade Paulo Nicolay entrou em contato com o chef Pedro de Artagão e ambos resolveram o menu para harmonizar com os vinhos. Dois craques que sabem tudo, mesmo em cima da hora, não teria como dar errado. E não deu.

A Borgonha é a terra de duas uvas consagradas mundialmente: pinot noir e chardonnay. Mas reduzir a região às castas locais é apequenar demais o lugar. Quanto mais se prova os vinhos da Borgonha, seja branco ou tinto, mais claro que fica que a palavra ali é diversidade. A expressão que a uva consegue em cada particularidade de terreno é ímpar. Não há um borgonha igual ao outro. E, mais uma vez, esta tese foi provada no almoço.

Com a entrada, um ragú de camarões, vinho branco: Puligny-Montrachet la Garenne 2006, de Louis Jadot. Elegante, fresco, preciso. Começo perfeito e excelente porta de entrada do que viria a seguir. E o que veio foi o Volnay 1er Cru Champans 1999, da Domaine Leroy. Macio, complexo, no ponto. Acompanhou o primeiro prato, o nhoque de batata baroa com cogumelos e azeite trufado. Em seguida, ainda com o prato na mesa, veio o Vosne Romanée 1er Cru Les Malconsorts 2006, da Domaine de Montille. Ainda jovem, precisou respirar na mesa para mostrar toda a complexidade que tinha.A farra continuou com um risoto de alcachofra, acompanhado por dois vinhos, devidamente decantados: o Charmes-Chambertin Grand Cru 2005 de Jopseph Drouhin, e o Corton Clos des Meix 2005, um Grand Cru Monopole da Domaine Comte Senard. Dois vinhaços. O prato principal foi uma autêntica reconstrução do tradicional picadinho, muito bem executada pelo chef. Para acompanhar, três espetáculos: o Clos des Lambrays Grand Cru 2001, o Échézeaux Grand Cru 1998 da Domaine des Perdix e o mítico Échézeaux 1997 da Domaine de la Romanée-Conti. O Clos de Lambrays estava deveras evoluído para um vinho de oito anos, com aromas de alcatrão, terra e alcaçuz. Já os dois Échézeaux brigaram cabeça a cabeça pelo posto de melhor da tarde. Se o Domaine des Perdix começou com a preferência da maioria, a medida em que os vinhos foram abrindo, o Échézeaux da Domaine de la Romanée-Conti se impôs.

Mas, preferências de lado, o que importa é o ato de confraternizar. Seja qual for o tema escolhido. Ou mesmo que não se escolha tema algum, apenas o prazer de provar bons vinhos na companhia de amigos que compartilhem o mesmo amor pela bebida. E longa vida às confrarias.
Publicado na coluna de Alexandre Lalas na revista Programa do Jornal do Brasil, em 27/11/2009

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