Todos os anos, assim que o emigrante do Alto Minho regressa ao país para passar as férias do verão, uma das primeiras preocupações a ter em conta prende-se com a compra de vinho verde, uma companhia tão desejada para as refeições da época estival. Começou por ser um símbolo distintivo da região, mas atualmente já é visto como um dos produtos mais emblemáticos da gastronomia portuguesa, um embaixador fora de portas. Não é para menos.
As exportações de vinho verde têm crescido nos últimos anos e a tendência é para aumentar. Tanto o é que os produtores começam a notar problemas de stock, apesar dos cerca de 22 000 viticultores e 600 engarrafadores que produzem aproximadamente 75 milhões de litros de vinho verde por ano. Destes, perto de 3/4 são vinho branco, com as produções de vinho rosé, espumante e aguardente a terem menor expressão.
A provar a escassez para tanta procura estão declarações recentes do presidente da CVRVV (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes), Manuel Pinheiro, ao Diário Económico: “A região precisa de incentivar o plantio de mais vinha, pois a parte comercial avançou mais depressa que a produção. Não temos vinho suficiente em reserva para as encomendas que precisamos”, revelou.
Mas afinal o que o torna cada vez mais procurado pelos consumidores? Em primeiro lugar é um vinho fácil de beber e extremamente fresco, a escolha perfeita para refeições informais, leves, saudáveis e pouco calóricas, como o verão sugere. Intensamente frutado, com baixo teor alcoólico e com uma acidez equilibrada, também é particularmente popular como aperitivo.
Estas características tornam-no numa bebida que combina muito bem com peixes, mariscos, carnes brancas, pratos vegetarianos, saladas, queijos, tapas, paellas, sushi, sashimi e outros pratos internacionais. Resumidamente, assentam que nem uma luva a qualquer ementa de verão.
Em segundo lugar, e não menos importante, é vendido a preços bastante apelativos para o consumidor final, principalmente para aqueles que o adquirem em solo nacional. Tanto o é que há responsáveis que falam na necessidade de se aumentar o valor das vendas, mais do que aumentar a quantidade das mesmas. Para que tal aconteça, a solução pode passar por uma maior aposta na plantação de castas alvarinho e loureiro, as que são mais valorizadas pelos apreciadores de vinho verde.
Em terceiro lugar, com bem menos importância do que os anteriores pontos, também se pode falar na curiosidade que a própria denominação desperta junto dos consumidores. Ao contrário do que os menos conhecedores possam pensar, o vinho verde não tem cor verde nem é produzido com uvas verdes.
A origem do batismo está relacionada com as características da região de produção, que se estende por todo o noroeste do país (na zona tradicionalmente conhecida como Entre-Douro–e-Minho) e está predominantemente coberta de vegetação. Remete ainda para o próprio perfil do vinho, que pela sua frescura e leveza se diz verde, em alusão à sua juventude, e por oposição a outros vinhos mais complexos e pesados.
Mais força para o famoso Alvarinho
Diferentes solos, climas e modos de cultura produzem vinhos distintos entre si, que levaram à divisão da Região dos Vinhos Verdes em nove sub-regiões: Amarante, Ave, Baião, Basto, Cávado, Lima, Monção e Melgaço, Paiva e Sousa. Para cada uma destas sub-regiões existem castas recomendadas à produção de vinhos, espumantes e aguardentes.
A tão apreciada casta alvarinho é cultivada particularmente na sub-região de Monção e Melgaço. Apesar de produzir mostos muito ricos em açúcares, apresenta um razoável teor em ácidos orgânicos. A fama é tanta, que a utilização do nome alvarinho na rotulagem dos vinhos gerou durante anos uma controvérsia que só recentemente foi resolvida.
O acordo pôs fim a um diferendo entre os produtores da sub-região de Monção e Melgaço, que detinham o exclusivo da rotulagem DOC Alvarinho, e os da restante região, que reclamaram o fim desse uso exclusivo. A partir do início do próximo mês, um lote terá que ter pelo menos 30% de alvarinho para que esta casta possa ser mencionada no rótulo.
As novas determinações preveem ainda que dentro de seis anos passe a ser possível produzir fora de Monção e Melgaço, o que poderá dar músculo comercial ao alvarinho português, que em termos de presença nos mercados internacionais vive na sombra do congénere galego.
Leia a notícia completa na edição de julho da Revista PORT.COM.
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