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terça-feira, outubro 27, 2009
Conheça Mario Geisse, referência em espumantes nacionais
A cidade de Pedra Azul, no Espírito Santo, sediou na semana passada o Encontro Internacional do Vinho, em que só participam aqueles que se propõem a pagar R$ 2,5 mil por sete sessões dirigidas por especialista. Dentro desse universo de sofisticação, dois vinhos brasileiros estiveram presentes: um espumante da Cave Geisse (Pinto Bandeira - Bento Gonçalves/RS) e um vinho da Vila Francionni (São Joaquim/SC).
No distrito de Pinto Bandeira, o enólogo chileno Mario Geisse contou que há 30 anos fincou ali suas vinhas e tornou-se referência nacional na produção de espumantes. Por quase quatro horas caminhamos entre vinhedos, provamos vinho base para espumantes, visitamos as caves da propriedade e tentamos acompanhar o ritmo frenético de Mario Geisse. Difícil não sair de sua companhia sem ser afetado pela sua paixão em buscar sempre o melhor, sua disposição em dialogar e estabelecer estratégias para aprimorar sua produção e seu incontrolável vigor em fazer planos e concretizá-los. Dessa conversa foi fácil sair com a clara idéia de que Mario Geisse, seus filhos e equipe não fazem somente espumantes, mas realizam sonhos. Leia a seguir alguns trechos de nossa conversa.
Quando e sob quais circunstâncias o senhor chegou ao Brasil?
Geisse - Eu vim para cá porque a Möet Chandon me contratou para ser responsável pelo projeto da Chandon quando era uma sociedade entre o grupo brasileiro Monteiro Aranha, a Cinzano do Brasil e Möet Chandon da França. Isso foi em janeiro de 1977. Na época, eu tinha 30 anos e já trabalhava no Chile com a família Rabal, que mais tarde seriam sócios do Clos Apalta (Casa La Postolle e Clos Apalta Winery).
Na sua chegada, a idéia já era se fixar na região?
Geisse - Não. Eu pensava em ficar dois ou três anos, mas quando conheci a região decidi comprar uma área para produzir a melhor uva possível. No princípio, eu não pensava em fazer espumantes. Pensava em produzir uvas de alta qualidade e ser um exemplo na produção de uvas vendidas para a Chandon.
E como se deu a mudança de planos e iniciou a produção de espumantes?
Geisse - Um dia, eu resolvi fazer um ensaio e verificar que qualidade de espumante seria possível fazer com essas uvas a partir do método champenoise, que é um método mais artesanal. O resultado foi tão extraordinário que resolvi partir para o meu próprio negócio.
Quais são essas características de solo que tanto o atraiu?
Geisse - Veja, este solo é composto por camadas de argila e rochas em decomposição que dão a mineralidade e as características que queremos em nossos espumantes. Conheço muitos lugares no mundo, mas ao comparar com esse solo, penso que sou um afortunado.
E como o senhor chegou a esse local especificamente?
Geisse - Bem, primeiro um conceito que sempre achei que era fundamental: uva se planta em local certo, que corresponde a ela. Se não é adequado, não se planta uva. Então, nós fizemos um estudo de todo o solo da região e chegamos aqui.
Qual o tamanho da área plantada?
Geisse - Aqui temos 72 hectares no total, 36 nossos e o restante de um vizinho com quem mantemos acordo e plantamos em sua propriedade. Nessa área existem três tipos de solo, mas só plantamos em um deles, que é a parte que garante as características que desejamos para nossos espumantes, como mineralidade. Então, dos 72 hectares somente 24 são plantados. São os melhores 24 hectares da propriedade. Para a elaboração do Cave Geisse só trabalhamos com uvas próprias. Temos um compromisso com esse terroir.
Nesses 24 hectares só se planta Chardonnay e Pinot Noir?
Geisse - Sim, só Chardonnay e Pinot Noir.
Além das características de solo, como é feito o trato dos vinhedos?
Geisse - Só para você ter uma idéia, nós não usamos nenhum produto químico nos vinhedos. Todo tratamento de pragas é feito por Thermal Pest Control (TPC), uma máquina de jato de ar quente que sai a 200 km/h a 130ºC. É o que há de mais moderno no tratamento de uvas.
Bem, os vinhedos são a matéria-prima dos espumantes. É onde tudo começa, não é?
Geisse - Sim e eu dou uma importância fundamental à matéria-prima. O visitante quando chega quer ver as caves, as instalações. Bem, para isso se contrata um arquiteto, uma empresa construtora e se resolve uma vinícola em um ano e meio, dois anos. Construção pode-se fazer em qualquer lugar. Vinhedo tem de ser feito no local correto e de forma adequada. É algo que para mim é o mais importante. Estamos em um local para se fazer espumantes.
Para cada terroir um projeto...
Geisse - Sim, nós agora estamos com o projeto El Sueño. É um projeto em que produzimos o que há de melhor em diferentes partes do mundo. Se dissermos que o melhor lugar do mundo para produzir espumantes é aqui, nessa região, muito bem, já estamos aqui. Agora, estamos produzindo Carmenère no melhor lugar para se produzir essa espécie, no Chile, em uma região onde eu comprei uma área já há algum tempo. Estamos produzindo pequenas quantidades de Carmenère, da forma como achamos que deve ser o espírito. O mesmo nós fazemos com a Malbec, na Argentina, e a Tempranillo, na Espanha. No ano passado, também iniciamos uma pequena coisa na França, em Champagne. São pequenas coisas para agregar e transformar a vinícola em uma verdadeira boutique de vinhos feitos nos melhores lugares do mundo.
Em todas essas regiões o senhor já está produzindo?
Geisse - Sim, mas não estão todos engarrafados. Os Champagnes já estão em processo de autólise (período em que o espumante fica na própria garrafa em contato com as leveduras). Os Malbec argentinos estão engarrafados, mas ainda não passaram tempo suficiente em cave antes de serem comercializados. Os vinhos da uva Carmenère já são comercializados no Brasil (pela importadora Vinhos do Mundo).
Que importância tem esse projeto para o senhor?
Geisse - Capricho de velho (risadas). Capricho familiar. Na verdade, tudo isso faz parte de uma filosofia de procurar fazer sempre o melhor. Não fazer o melhor, não é o meu jeito.
O senhor falou em pequena produção. Em uma boutique de vinhos. Quantas garrafas de Cave Geisse por ano são produzidas?
Geisse - Noventa mil garrafas de Cave Geisse, dependendo da safra.
Há planos para aumento de produção?
Geisse - Não podemos e nem queremos crescer. Somos uma empresa de estabilidade mais do que de crescimento. Temos uma produção de uvas maior do que precisamos. Se você pensar, temos 24 hectares a uma média de nove mil quilos por hectare, o que dá para produzir 150 mil garrafas por ano, mas produzimos algo como 120 mil entre Cave Geisse e Amadeu. Me sinto tão orgulhoso de há trinta anos ter acreditado nessa região. Fiz desse lugar meu segundo país, estou contente de ter escolhido aqui para jogar minha energia e meu capital. Estou contente por duas coisas: primeiro com o sucesso que teve nosso produto. Sempre pensei que aqui se poderia fazer o melhor espumante da América do Sul. Mesmo produzindo na região de Champagne, na França, eu te digo o seguinte: se colocarmos a relação preço/qualidade ele (espumante Cave Geisse) bate muito champagne por aí.
Carlos Alberto Barbosa - Direto de Pinto Bandeira (RS)
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