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terça-feira, outubro 27, 2009
Safra 2009 em Bordeaux promete vinhos excepcionais e caros
Agora é oficial. Após as provas de amostras que a Union des Grans Crus de Bordeaux - entidade que reúne os principais produtores da região - promoveu nesta semana em Londres, os vinhateiros de Bordeaux e a imprensa especializada comemoram a safra 2009 como uma das mais perfeitas da história. As condições climáticas beiraram o ideal, o que inclui longos períodos de seca durante as fases mais importantes de maturação e colheita das uvas. Essa perfeição, todavia, leva a dois desafios. O primeiro, conforme matéria publicada no site da revista britânica Decanter, a vinificação, ou seja, condição de clima ideal, com alto grau de maturação das uvas, facilmente eleva o grau alcoólico da bebida. São esperados vinhos com até 15% de álcool. Isso demanda cuidados especiais nessa etapa para que o excesso de maturação das uvas não esconda sua acidez e o excesso de álcool não cause problemas na sua fermentação, o que poderia gerar vinhos desequilibrados.
Esse é um fato conhecido também dos vinhateiros brasileiros. Guardadas as proporções, pois Brasil não é França e nem Vale dos Vinhedos é Bordeaux, a safra 2005 no Vale também foi anunciada como uma das melhores até então. A surpresa é que alguns exemplares dessa safra apresentam aromas pouco comuns, com uma nota exagerada de silagem e um excesso de maturidade na fruta que chega a ser um pouco enjoativo. Ao menos dois enólogos do Vale dos Vinhedos, que não querem ter seus nomes revelados, apontaram que a qualidade da safra trouxe um produto à cantina que muitas vezes não foi vinificado de forma adequada ¿ principalmente porque em alguns casos sua fermentação teria sido espontânea e precocemente interrompida.
Voltando aos vinhos europeus, o outro desafio estará nas prateleiras. Historicamente, o anúncio de grandes safras vem acompanhado de altos preços para o consumidor final. Quem não se lembra da chegada ao mercado dos Bordeaux da safra 2005? Em junho de 2008, uma caixa de Château Pétrus 2005, por exemplo, chegou a ser negociada por mais de U$ 67 mil, ou algo como U$ 5,6 mil a garrafa. A alta dos preços da safra 2005 já era prevista desde sua compra en primeur (sistema pelo qual se compra o vinho antes de sua chegada ao mercado).
Em artigo para a revista Decanter, em março de 2007, o especialista Steven Spurrier fez uma comparação entre as safras 2004 e 2005, concluindo que a última estava com preços inflados, enquanto a do ano anterior, considerada por ele uma safra de vinhos clássicos, teve seus preços refreados principalmente pela sombra que a fama da safra seguinte lançou sobre ela. Conclusão de Spurrier: os vinhos de 2004 eram uma melhor compra quando levado em conta a relação entre preço e qualidade - a despeito do fato de que muitos do ramo do vinho não veem com bons olhos o uso de expressões que relacionam custo e benefício ou preço e qualidade, para o consumidor final essa é uma relação importante.
O que muitos não previam para a safra 2005 era a crise econômica mundial que estava por vir. Nos 12 meses seguintes ao ápice do preço da caixa de Pétrus 2005, sua cotação já havia despencado quase 30%, caindo ainda mais até setembro de 2009. Mesmo assim, para o consumidor comum ainda não é o que se poderia chamar de uma barganha. Embora negada por muitos, ao que tudo indica o efeito da crise atingiu o mercado dos vinhos que são caçados por colecionadores e pelos que podem dispor de pequenas fortunas por uma garrafa.
O que esperar da safra 2009?
A safra 2009 pode contar uma história diferente. Como exercício especulativo, é bem provável que essa safra chegue ao mercado em um momento de ascensão econômica importante, o que daria margem para maior crescimento antes que uma próxima crise mundial se apresente. Ao contrário de 2005, que chegou ao mercado em um período de prosperidade econômica e festa nas instituições financeiras, para depois ser apanhada pelo revés da crise. Os Bordeaux de 2009 surgem com uma diferente conjunção de fatores que pode novamente alavancar de forma significativa o valor das garrafas, talvez até em patamares mais elevados que os vinhos de 2005. Os principais fatores que conspiram para a alta dos preços são a provável procura pelos vinhos de uma safra privilegiada e a recuperação econômica mundial, que já pode ser sentida no arrefecimento da recessão em muitos países e nos polpudos bônus que já começam a ter sua distribuição anunciada entre altos executivos. Obviamente estes são potenciais clientes dos grandes Châteaux.
É esperar para ver. Mas, aparentemente a boa notícia para os vinicultores pode ser sinal de maiores gastos por garrafa para os aficionados. A regra é simples: a demanda em alta e a abundância financeira elevam os preços. Já aos consumidores comuns, que são maioria, se o preço for proibitivo, o melhor a fazer será optar por comprar outra safra ou mudar de produtor e até mesmo de região vinícola, preferindo vinhos que sejam menos afetados pelas leis de um mercado tão sensível e cheio de humores.
Carlos Alberto Barbosa
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