Um vinho chinês surpreendeu e venceu um renomado concurso promovido pela revista britânica Decanter, batendo outros vinhos franceses na mesma categoria.
O Cabernet Dry Red 2009 (Jia Bei Lan) foi o primeiro vinho chinês da história a vencer o Decanter World Wine na categoria de vinhos na mais alta faixa de preços.
Os profissionais do vinhedo He Lan Qing Xue, na província Ningxia, no norte da China, comemoraram o recebimento do prêmio, em uma cerimônia em Londres.
O consultor de vinho Demei Li, que tem passagens por vinhedos na França e ajudou a criar o vinho chinês, diz que a China não possui um clima "adequado para produzir vinho".
Assim como a Europa, o país possui um clima continental, com verões de calor intenso e invernos muito frios. No entanto, as temperaturas são mais extremas. No inverno, as videiras precisam ser escondidas sob o solo para ficar protegidas do frio.
China x França?
O Jia Bei Lan é uma mescla das uvas bordalesas Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Gernicht – que especialistas acreditam ser uma parente da Cabernet Franc ou Carmenère.
Os jurados do concurso descreveram o vinho como "suculento, gracioso e com aromas de fruta madura, mas não carnudo" e elogiaram a sua "excelente persistência e seus taninos firmes".
Porém, o produtor chinês afirma que o vinho "não está tentando competir com os vinhos de Bordeaux, como os Grands Crus".
Demei diz que o vinho, com sabores de fruta e carvalho, é equilibrado e apropriado ao gosto chinês.
Com o triunfo, Demei espera oportunidades para venda em hotéis e restaurantes nos exterior. "O prêmio será muito útil para vender o vinho e desenvolver a marca", diz.
O próximo passo da vinícola será desenvolver vinho branco.
Produção local
Atualmente, o vinho só é vendido na China, em produção limitada, a um preço equivalente a R$ 35. Apenas 20 mil garrafas da safra 2009 foram produzidas.
Demei espera que o prêmio incentive outros produtores chineses a expandir sua atuação, inclusive por meio de parcerias com o vinhedo He Lan Qing Xue.
Um estudo feito pela Vinexpo, organizadora de uma das principais feiras de vinho do mundo, na França, afirma que a China (incluindo Hong Kong) deve se tornar o oitavo maior consumidor de vinho do mundo em 2012.
Para o consultor, fazer vinhos no norte da China é lutar contra o clima
Atualmente, os maiores consumidores são França e Itália (cada um com cerca de 12,7% do mercado total, de US$ 100 bilhões). Depois deles, vêm EUA (11,1%), Alemanha (10,3%) e Grã-Bretanha (5.4%).
Ao lado de Argentina, Espanha, Rússia e Romênia, a China consome 2,2% do mercado mundial.
Para Demei, entretanto, o consumidor chinês ainda consome pouco vinho nacional.
Na opinião dele, após o prêmio, "os consumidores de fora prestarão mais atenção aos vinhos chineses do que os próprios chineses".
Tradicionalmente, o vinho não é uma bebida popular na China. Contudo, segundo Demei, "a cada ano consumimos mais vinho em detrimento de bebidas alcoólicas locais", já que a nova geração tem mudado seus hábitos em relação ao consumo de bebidas.
Felicity Sylvester de Londres para a BBC Brasil
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