Em sua edição de dezembro de 1997, a revista inglesa Decanter publicou o resultado de um teste que visava esclarecer uma das maiores dúvidas do consumidor de vinho: qual é a melhor maneira de servir um Bordeaux? Ele deve ser decantado? Em caso positivo, quanto tempo antes de servir? Ou seria suficiente apenas retirar a rolha e deixá-lo respirar na própria garrafa?
Para tentar responder a essas perguntas foram convocados seis craques em degustação: os jornalistas e escritores Hugh Johnson e Steven Spurrier; a responsável pelo setor de vinhos da Sotheby’s, Serena Sutcliffe; Patrick Léon, diretor da casa Baron Philippe de Rothschild S/A, que forneceu os vinhos; e os sommeliers Nick Tarayun e Gérard Basset (este francês naturalizado inglês foi o segundo colocado no Concurso Mundial, realizado no Rio de Janeiro, em 1992).
Quatro vinhos – que relacionamos abaixo – foram servidos em seis diferentes situações cada um:
1. decantado imediatamente antes de servir
2. decantado duas horas antes
3. decantado cinco horas antes
4. aberto e servido imediatamente
5. deixado a respirar na garrafa por duas horas
6. deixado a respirar na garrafa por cinco horas
Cada vinho foi servido às cegas: o degustador sabia o nome do vinho, mas não em qual das seis situações estava sendo apresentado.
Por falta de espaço, não podemos apresentar todos os comentários dos participantes, mas houve muito mais divergências do que concordâncias. De qualquer forma, o veredicto final – que serve para orientar (será?) o leitor, foi o seguinte:
Château Mouton-Cadet 1990 – melhor resultado: abrir a garrafa duas horas antes de servir, mas não decantar. Evitar: decantar e servir imediatamente. Foi a unanimidade do painel;
Château d’Armaillhac 1989 – melhor servido imediatamente, sem decantar. Pior resultado: decantado duas ou cinco horas antes;
Château Clerc-Milon 1982 – melhor abrir e servir imediatamente, sem decantar ou mesmo respirar;
Château Mouton-Rothschild 1961 – melhor resultado: decantado duas horas antes de servir. Menos apreciado quando decantado e servido imediatamente.
Algumas conclusões do grupo, analisadas todas as circunstâncias: os vinhos decantados e servidos em seguida foram os que se saíram menos bem; o que foi aberto e servido imediatamente, sem decantar, foi o que se saiu melhor; quase não houve vantagens em abrir a garrafa cinco horas antes de servir. Pareceu claro também que, os melhores e mais importantes vinhos respondem melhor ao procedimento mais tradicional: decantar duas horas antes de servir. Mas como regra geral, no caso desta prova, o melhor resultado foi abrir e servir imediatamente, sem decantar.
No total, o resultado foi desconcertante para todos os degustadores, o que só veio confirmar que a questão é altamente controvertida. A tal ponto que, terminada a degustação, o experiente Hugh Johnson declarou: “Fui reprovado.” Serena Sutcliffe nâo ficou atrás: “Foi uma loucura!" E a editora da revista, Sarah Kemp”, brincou: “Se não fosse pelo Mouton-Rothschild 61, teríamos que mudar o nome da revista: de “Decanter” para “Sirva Agora”!
Fonte: Célio Alzer
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