Aparentemente fácil de compreender, o sistema de apelação Controlada da Borgonha na prática se revela extremamente complexo mesmo aos olhos dos mais experimentados francófilos. Com seus vinhedos formando um imenso mosaico onde "vignerons" dos mais variados talentos coabitam sob a mesma denominação e apenas duas cepas a considerar: Pinot Noir para tintos e Chardonnay para brancos, o que aparentemente seria fácil torna as coisas ainda mais difíceis, porque, diferentemente de Bordeaux, cujo corte permite várias cepas, na Borgonha de duas cepas, a qualidade fica a mercê de um clima instável, devido à latitude tão ao norte que torna a maturação das uvas inconstante de ano para ano. Outro fator é a quantidade produzida por cada Domaine, 30 mil garrafas em média, fator que não permite se beneficiar de uma produção de escala como em Bordeaux (250 mil) e por último a expectativa criada pelo consumidor diante de nomes como: Chablis, Gevrey-Chambertin, Nuits-Saint-George e outras grandes apelações que nem sempre condizem com as expectativas do apreciador. Por estas razões, para beber bem Borgonha, há que se perseverar muito, visto que cada taça traz um universo de surpresas apenas previsível com base no pedigree do vigneron (o produtor). Só para se ter uma idéia, denominações importantes como Clos-Vougeot Grand Cru (hipoteticamente um grande caldo), compreende uma superfície de apenas 50 hectares, pertencente a 80 viticultores diferentes, cada qual produzindo independentemente seus vinhos com qualidades variáveis, somadas às variações climáticas (safra) de cada ano. Portanto há que se estudar muito, provar muito (sem beber) e ter na memória ou na agenda, bons nomes para se garimpar as pérolas de Baco no intrincado sistema de apelação borgonhês
Fonte: Tribuna do Norte
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