Uma das agradáveis surpresas do tour pela Serra Gaúcha a convite do Ibravin foi conhecer produtores de outras regiões do Rio Grande do Sul que não Bento Gonçalves e adjacências. Ao menos três painéis trataram do assunto de um modo ou de outro.
As principais apostas estão no sul do estado, na região da Campanha, fronteiriça com o Uruguai. Mas a Serra do Sudeste, um pouco mais ao sul da Serra Gaúcha, os Campos de Cima da Serra, região de altitude um pouco mais ao norte, quase na fronteira de Santa Catarina e a região do Alto Uruguai, mais a oeste, também trazem surpresas.
Assim como a Miolo investe na Campanha, a Valduga aposta na Serra do Sudeste ou, como preferem chamar, Encruzilhada da Serra. Mas destes gigantes teremos outras chances de falar. Quero focar nos produtores menores ou mais novos.
A primeira vinícola instalada na Encruzilhada da Serra é a Coppeti, de quem tomei um excelente espumante charmat feito com 70% de chardonnay e o restante de cabernet sauvignon e merlot, vinificados em branco. Passa três meses em contato com as leveduras, o que lhe dá aroma de miolo de pão sutil, frutas cítricas, ótima perlage, leveza, frescor, acidez delicada. Deve chegar ao consumidor por R$ 30.
A Lidio Carraro traz da mesma região o excelente Dádivas Chardonnay 2010. Com 13% de álcool, não passa por madeira. Tem aroma lácteo, floral, acidez delicada, muita untuosidade, mineralidade e belo corpo. Sua elegância é rara em se tratando de brancos do novo mundo. R$ 45 para o consumidor final é pechincha.
Da região dos Campos de Cima da Serra, mais especificamente do município de Muitos Capões, situado entre 800 e 1.000m de altitude, a simpática Aracuri, um projeto jovem, iniciado em 2005, traz um corte de cabernet sauvignon e merlot na proporção 60/40, safra 2009, com 13,4% de álcool, sem madeira, de cor vermelho-rubi translúcida, aroma de especiarias, frutas vermelhas, equilibrado, elegante, sem nenhum defeito. Um vinho direto e honesto por R$ 38.
Da vizinha Caxias do Sul, mas com vinhedos plantados no ano de 2000 em Santa Lúcia e São Francisco, a Quinta Don Bonifácio, única a produzir vinhos finos na cidade, e com uma gama enorme de produtos que inclui suco, vinhos brancos e tintos, em garrafas e em bag-in-box, apresentou um ótimo espumante charmat rosado brut, feito com um interessante corte de merlot, sangiovese e chardonnay, safra 2010, 12% de álcool, com perlage correta, cor rosa pálido, aroma de frutas vermelhas e banana, acidez agradável, sem traço de amargor, muito equilibrado.
Já citada nesta coluna, o Antonio Dias Tannat 2008, produzido na região de Alto Uruguai, Três Palmeiras, Rio Grande do Sul, vale ser lembrado. Com produtividade de apenas 1,33 garrafas de 750 ml por planta, 14% de álcool, amadurece por dez meses em barris de carvalho francês. De cor vermelho-rubi intenso, nariz ótimo, com aromas de frutas vermelhas maduras, chocolate e café. Na boca é bem estruturado, potente, com bom corpo, taninos macios, boa acidez e um retrogosto prolongado. R$ 48,90.
A Campanha parece ser, realmente, um novo Eldorado para o vinho brasileiro. O Quinta do Seival Castas Portuguesas já o demonstrava e sua versão na casta tannat foi uma das grandes estrelas da Avaliação Nacional de Vinhos 2011.
No painel sobre a região, encontramos nosso conhecido Cordilheira de Santana Chardonnay 2005 Reserva Especial, 14% de álcool. Com 30% de passagem em madeira, tem aroma delicioso, ótima acidez, na boca é potente, untuoso e de ótima persistência. Um branco brasileiro de seis anos ainda inteiro. Completamente íntegro. Para calar a boca dos descrentes. R$ 50 a R$ 60.
A jovem Dunamis, que aposta em vinhos diretos, descomplicados e, principalmente, no seu espumante charmat, trouxe da Campanha um ótimo corte de sauvignon blanc e chardonnay, batizado com o filosófico nome Ser. Safra 2010, leve e elegante, tem 11,5% de álcool, aromas tostados, cítrico delicado e final muito agradável. Ser simples neste caso é uma qualidade. R$ 29,90 em todo o Brasil.
E, por fim, a vinícola Província de São Pedro traz uma das histórias e um dos vinhos mais sui generis da região. Parceria da família Darricarrère, franco-argelina, com dez gerações de experiência no mundo do vinho e espalhada hoje entre França, Califórnia, Uruguai e agora Brasil, com o fruticultor canadense Michel Routhier, o projeto se iniciou em 2002.
Adeptos do slow food, apresentaram um interessante cabernet sauvignon cuveé feito com 20% da safra de 2008, 14% de álcool e 80% da safra de 2009, com 12% de álcool, que resultou num vinho de 12,5%. De cor vermelho rubi translúcido, aroma de frutas vermelhas, compota, café, na boca tem paladar macio e toques de especiarias.
Ninguém pode dizer que não seja a mais francesa das jovens vinícolas brasileiras. E isto, com certeza, é sua grande contribuição ao vinho brasileiro, tão embasado na cultura do imigrante italiano. Infelizmente, o consumidor de fora de Porto Alegre terá de se esforçar para encontrar uma das 5 mil garrafas produzidas deste ótimo tinto que custa, por lá, em torno de R$ 40. Nada é perfeito.
Fonte: Maurício Tagliari
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