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terça-feira, maio 01, 2012

Vinhos: com qualidade, reservas que dispensam adega

Já é senso comum, nos dias de hoje, que a maior parte dos consumidores de vinho não tem dinheiro, espaço nem paciência para esperar por anos a fio até que suas garrafas amadureçam. Eles esperam que os vinhos estejam prontos, ou ao menos aproveitáveis, imediatamente após a compra.

Estamos a uma notável distância dos velhos tempos, quando nossos ancestrais amantes do vinho jamais imaginavam abrir, digamos, um Bordeaux decente antes que ele tivesse completado doze a quinze anos. Com isso, muitos produtores em todo o mundo mudaram seus métodos de produção, esforçando-se para fazer vinhos mais acessíveis enquanto ainda jovens.

Isso não quer dizer que não se encontrem ainda vinhos novos que amarram a boca com seus taninos adstringentes. Há muitos deles por aí, como os barolo. Embora as pessoas digam que eles estão menos hostis hoje em dia, não os aprecio quando novos. Na verdade, se você tiver dinheiro, adega e paciência, muitos vinhos de todo o mundo ainda ganham muito com um envelhecimento prolongado.

Nem por isso as pessoas querem se encarregar disso, mas, se alguns restaurantes tomam para si a tarefa de envelhecer os vinhos, eles o fazem em geral a preços proibitivos.

Evidentemente, esse estado de coisas deve deixar frustrados muitos amantes do vinho: quem de nós não gostaria da oportunidade de tomar vinhos envelhecidos sem ter de pagar uma fortuna, ou de esperar? Que tal hoje?

Ofereço, se permitem, uma boa solução: os reservas de Rioja.

Esses vinhos não são necessariamente muito envelhecidos antes de serem vendidos. Por lei, um rioja pode ser rotulado como reserva se tiver ao menos três anos (ao menos um deles em barris de carvalho) antes de ser comercializado. Na prática, você pode encontrar agora nas lojas muitos reservas de Rioja da safra de 2007 – em geral do tipo fresco, minimamente envelhecido.

Ainda assim, é estimulante que alguns produtores de Rioja não se dobrem aos padrões de envelhecimento mínimo para os reservas. Abençoados sejam esses que vão muito acima e além do que é exigido. Isso quer dizer, felizmente, que nas lojas também não é difícil encontrar reservas de mais de dez anos. Estes são lançamentos correntes e, considerados num panorama mais amplo, não custam tanto assim; em geral de trinta a quarenta dólares, metade do que você pagaria por um cabernet medíocre do vale do Napa.

O painel de vinhos degustou recentemente vinte vinhos reserva de Rioja de uma gama de colheitas disponíveis nas lojas. Descobrimos que os melhores eram, de longe, aqueles já bem envelhecidos quando os compramos, em geral da safra de 2001.

Para a degustação, Florence Fabricant e eu fomos acompanhados por Ashley Santoro, a diretora de vinhos do restaurante Casa Mono, e Victoria Levin, gerente geral do bar de vinhos The Tangled Vine.

A Rioja, claro, não é a única região com exigências de envelhecimento mínimo. A região toscana de Montalcino, para ficar num exemplo, exige que os brunellos envelheçam quatro anos antes de serem vendidos, e cinco no caso dos riservas. Ainda assim, mesmo quando são vendidos, eles em geral demandam mais anos de envelhecimento antes que fiquem realmente apreciáveis.

Em Rioja é diferente. A velha tradição era que os produtores envelhecessem os vinhos até que estivessem prontos para ser abertos, muito além do tempo mínimo. Apenas algumas poucas vinícolas ainda oferecem esse serviço. Mas, a julgar pela nossa degustação, a diferença é bem clara. Nossas quatro melhores garrafas eram todas de reservas bem envelhecidos de produtores que continuam a seguir esta prática tradicional.

O primeiro lugar foi do La Rioja Alta Viña Ardanza de 2001, um vinho que está, hoje, absolutamente delicioso, mas também muito mais que isso. Com toques de fruta levemente apimentados, suavizados pelo longo envelhecimento em barris antigos de carvalho americano, foi um exemplo brilhante de rioja clássico, dotado de complexidade e finesse. A safra de 2001 é amplamente considerada como uma das grandes, e o produtor, La Rioja Alta, gostou tanto desse vinho que o chamou de Reserva Especial – e foi apenas a terceira vez que seus vinhos conquistaram essa designação, após os de 1964 e 1973.

O segundo lugar ficou com outro 2001, o Reserva Señorio de P. Pecina da Hermanos Pecina, um vinho pungente e puro, mais poderoso nas frutas que o Viña Ardanza, embora não fosse tão complexo.

Os seguintes colocados foram, ambos, da R. López de Heredia, o grande bastião do rioja feito segundo as regras tradicionais. Um deles, o Viña Tondonia 2001, em quarto lugar, era ainda jovial. Seus sabores de fruta muito diretos ainda têm anos de evolução pela frente. Hoje, esse vinho está terroso e suave, embora ainda não excessivamente complexo.

Em contraste, o terceiro colocado, o Viña Bosconia, era da safra de 2003, um ano estranho, marcado por calor excessivo em toda a Europa. Esse vinho não mostra, no entanto, nenhum sinal aparente da safra. É extremamente delicado, o que é incomum nos Bosconia, e muito amável agora, mas dificilmente envelhecerá tanto quanto o Tondonia.

O resto dos nossos dez mais era todo mais novo, com duas garrafas para cada um dos anos de 2004, 2005 e 2007 – todas elas luminosas.

Durante anos, os vinhos de Rioja demonstraram uma completa divisão entre o tradicional e o moderno, caracterizada por uma densidade e um poder retintos, e pelo evidente uso de pequenos barris de carvalho francês. Ainda é possível encontrar desses vinhos muito modernos, embora talvez seja apressado identificá-los como riojas. Mas mesmo os melhores entre os vinhos modernos na nossa degustação traziam os sabores e texturas característicos da região. É justo dizer que, hoje, em vez de uma lacuna entediante, há uma diversidade de estilos claramente identificáveis como rioja.

Como disse Victoria, "eu esperava muito branco e preto, e fiquei contente em encontrar tantos tons de cinza".

Entre estes havia reservas mais novos, como o Unica de 2007 da Sierra Cantabria, que trazia frutas ricas e maduras, sem ser muito denso ou pesado, e o Muga de 2007, que trazia frutas e carvalho, mas ainda precisava de alguns anos para atingir a sua harmonia.

Mesmo reservas envelhecidos são, de certo modo, vinhos de entrada que meramente sugerem a expressão última dos gran reservas tradicionais de Rioja. Esses vinhos precisam ser envelhecidos por seis anos após a colheita, e não desabrocham até que, como jovens adultos, cheguem aos vinte anos. Mas essa é outra história, e a espera vale a pena.
Eric Asimov
The New York Times News
24HorasNews

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