Marcelo e Tony são os novos “tipos lá no Minho a fazer umas coisas diferentes”. Os dois amigos e empresários compraram a magnífica Covela, antiga propriedade do realizador Manoel de Oliveira, e mais tarde as quintas das Tecedeiras e da Boavista, no Douro.
O telefone deu sinal indicando a chegada de uma mensagem. Era de Marcelo. “Você conhece a Quinta de Covela?” Tony Smith respondeu imediatamente: “Não conheço a quinta mas conheço os vinhos e são muito bons. Porquê?”
A mensagem vinha do Rio de Janeiro. Marcelo Lima estava com a mulher num hotel, à beira da piscina, aproveitando o feriado, e acabara de conhecer dois portugueses, construtores civis de Braga que tinham chegado à cidade procurando novas oportunidades de negócio e foram surpreendidos pela notícia de que era feriado.
Em conversa, os dois acabam por falar da Quinta de Covela, em Baião, na região dos Vinhos Verdes, no Norte de Portugal. Acontece que Marcelo, empresário brasileiro com negócios em áreas que vão da moda à banca passando pela publicidade ou a refrigeração, e Tony, britânico, antigo jornalista e ex-correspondente em Portugal da Associated Press, andavam há já algum tempo à procura de uma quinta de produção de vinho para comprar. E daí o sms do Rio para São Paulo, onde Tony vivia na época.
Foi pura coincidência o facto de Tony já conhecer os vinhos da Covela. Mas esta, como se verá, é uma história feita de muitas coincidências. Durante os muitos anos que viveu em Portugal — primeiro como correspondente em Lisboa, onde chegou pela primeira vez em 1988, depois como repórter de guerra, mas com base ainda nessa cidade —, Tony costumava ir frequentemente ao Algarve. “Lembro-me perfeitamente”, conta à Revista 2. “Um dia estávamos num bar na praia Ferragudo e um amigo apresentou-me os vinhos, dizendo-me: ‘Tens de experimentar, são de uns tipos lá no Minho que estão a fazer umas coisas diferentes.’ E de facto, na época, misturar Avesso com Chardonay era bem diferente.”
Tony Smith e Marcelo Lima (que nunca se deixa fotografar de frente) compraram a Quinta de Covela em 2011 MANUEL ROBERTO
Hoje, passados cinco anos, são Marcelo e Tony os novos “tipos lá no Minho a fazer umas coisas diferentes”. Os dois amigos e empresários, fundadores da Lima&Smith, entraram no mundo dos vinhos em Portugal, comprando primeiro, em 2011, a magnífica Covela, antiga propriedade do realizador Manoel de Oliveira, e mais tarde as quintas das Tecedeiras e da Boavista, no Douro. E é esta história, de coincidências e de surpresas, de aventuras e de desaires, de paixão e de visão, que os dois se preparam para contar, no cenário cinematográfico da Covela.
As nuvens escuras e ameaçadoras enrolam-se no céu sobre as nossas cabeças e aumentam o dramatismo das ruínas do século XVI situadas numa das partes altas da quinta — uma capela, ao lado, um solar, com uma escadaria imponente e, na fachada que ainda permanece de pé, as janelas abertas para o vazio, como um palco à espera dos cantores de ópera.
“Contratámos um arqueólogo para fazer um estudo sobre estas ruínas porque não há registos históricos sobre elas”, explica Marcelo. “Este conjunto provavelmente é do século XVI e tem um pouco um conceito de cenário, é muito mais imponente do lado de fora do que do interior. Tem essa escadaria cinematográfica, meio hollywoodiana, e essa estrada que vai descendo até ao rio Douro. Foi construída de forma a que do Douro se visse ao longe a casa e a capela.”
Viemos à Covela neste domingo do final de Setembro porque era a véspera do regresso de Marcelo ao Brasil e era, por isso, uma oportunidade única para o conhecer e ouvi-lo contar a história desta aventura. Uma história que, neste texto começou com o sms do Rio para São Paulo, mas que, na verdade, podia ter começado antes, num lugar improvável: o Uzbequistão.
Foi na capital uzbeque, em 2000, que Marcelo ouviu falar pela primeira vez em Tony. “Um dia eu estou em Bukhara tomando uma cerveja com um alemão e um australiano à beira de uma praça do século XII, falei que era de São Paulo, e o alemão me disse: ‘Um amigo meu superbacana acabou de se mudar para São Paulo, vou te dar o contacto dele’.” A viagem continuou e ao grupo inicial juntaram-se mais um italiano, uma portuguesa e um espanhol. “A característica mais alucinada desse grupo”, recorda o brasileiro, “é que a única língua em comum era o português”.
No final, regressando ao Brasil via Lisboa, Marcelo levava o contacto de outro conhecido do alemão, com quem jantou e que lhe falou, novamente, de Tony, o tal “amigo superbacana”. Não havia como não o contactar, e foi isso que Marcelo fez. Ficaram amigos até hoje. E — agora é Tony quem conta — em São Paulo costumavam encontrar-se para tomar um copo de vinho ao final da tarde. Nessas conversas, já nenhum se lembra bem como, começaram a falar da ideia de um dia fazerem vinho.
“De repente”, diz Tony, “estávamos vendo o preço por hectare de vinícolas em Napa Valley”, na Califórnia. Marcelo é um pragmático. “Comecei a avaliar a ideia de investir depois que vi que faz algum sentido económico. Não queria fazer alguma coisa só por diletantismo, porque é cool.” Correram vários países, Áustria, Itália, Espanha, puseram a hipótese da Alemanha, da França. E, claro, Portugal, onde viram mais de 40 propriedades por todo o país. “Fomos ao Alentejo, a Azeitão, que parecia perfeito, perto de Lisboa, lugar lindo, a propriedade chegava até ao mar, tinha bosques, campos, depois a gente olhou no Dão, na região de Monção, Ponte de Lima, e acabou tomando a decisão com a Covela, que foi daqueles casos de amor fulminante”, resume Marcelo. Mas não foi fácil.
Percorremos os caminhos da Covela ao lado de Marcelo, ouvindo a história. Já começou a chover. Passamos pela antiga casa de pedra, onde habitou Manoel de Oliveira. As histórias desse tempo, Marcelo e Tony só as conhecem através do senhor António, o feitor. Conta-se que quando Manoel de Oliveira quis casar com Maria Isabel Brandão de Meneses de Almeida Carvalhais, o pai desta argumentou que ele não tinha “bens ao luar”. O jovem noivo comprou então a propriedade que ficava em frente da Covela, que já então pertencia à família da noiva. E assim, passou a ter “bens ao luar” e, com o casamento, a Covela quase duplicou de tamanho.
Os empresários tinham visto mais de 40 propriedades antes de se encantarem com a Quinta que era propriedade de Manoel de Oliveira NELSON GARRIDO
Dessa casa de granito — a quinta fica na fronteira entre a zona granítica da Região dos Vinhos Verdes e a região de xisto dos Vinhos do Porto — avista-se toda a paisagem romântica da Covela, com a vinha, os pomares, o riacho, o antigo moinho de pedra agora recuperado. Ao lado da casa há um tanque. Marcelo pára por um momento para contar uma história.
“A gente soltou uns peixinhos dourados neste tanque. Eles ficaram felizes aqui um ano, um ano e meio. Aí, no Inverno passado, chegou um pato selvagem que decidiu ficar por aqui e que ficava sempre na borda do tanque.” Tony interrompe: “A gente pensava: porque é que esse pato está sempre aí? E, depois, um dia: onde estão os peixinhos?” Marcelo completa, rindo: “O pato tinha comido os peixinhos, mas depois os cachorros atacaram o pato. Foi a cadeia completa.”
Só Tony vive na Covela (embora passe os primeiros seis meses do ano quase sempre a viajar). Marcelo vem com a mulher e as filhas no Verão, e depois volta na altura da vindima, para acompanhar os trabalhos. Mas quando o ouvimos falar temos a impressão de que vive aqui o tempo todo — conhece cada detalhe, cada história, sabe tudo acerca das castas, da vindima, dos vinhos, encanta-se com os trabalhos de melhoramento, a recuperação do antigo moinho de água, a construção da pequena ponte sobre o riacho, que tem o nome da mãe dele porque foi feita para que ela pudesse passar, quando aqui esteve com as suas cinco irmãs.
Estamos precisamente no antigo moinho, e na nova ponte, de onde temos de fugir rapidamente porque chove cada vez mais. Ouvimos Marcelo contar:
“Nasci no Brasil, numa região chamada Triângulo Mineiro”, começa a contar. “A minha mãe nasceu numa fazenda que tinha a vila mais próxima a dois dias a cavalo e não tinha estradas. O meu avô, para que as filhas estudassem, tomou a decisão de se mudar para essa vila, chamada Campina Verde, onde abriu uma loja de tecidos e onde eu nasci. Mas, mesmo nessa altura, era uma cidade sem energia eléctrica, só tinha um motor a diesel que funcionava algumas horas por dia, não tinha água encanada, não tinha asfalto. A cidade mais próxima era a quatro horas e meia por uma estrada que não era pavimentada.”
Foi aí que morou até aos 13 anos. Aos 14, foi sozinho para Belo Horizonte para estudar e, aos 16, Marcelo, que “como todo o mineiro não conhecia o mar”, foi pela primeira vez ao Rio de Janeiro. “Adorei. Liguei para o meu pai e falei: ‘Pai, estou pensando fazer faculdade aqui no Rio, tudo bem?’ Aí, ele falou: ‘Mas acha que vai ser bom para você?’, e eu, olhando aquela praia toda, respondi: ‘Bom? Acho que vai ser óptimo’”, recorda, com uma gargalhada.
Foi no Rio que conheceu Beatriz Kopschitz Bastos, com quem casou, e depois iniciou a sua carreira, primeiro num banco e a seguir como empresário, quando achou que não podia ficar apenas dando conselhos para os outros sem arriscar. “Decidi comprar 50% de uma agência de publicidade cuja receita era um pouco maior do que o meu salário e, como aconteceu depois em todos os meus negócios, todo o mundo falou que eu estava louco. Mas correu superbem.”
Hoje, Marcelo Lima é accionista do grupo Artesia e tem investimentos em áreas muito variadas, a mais recente das quais é a dos vinhos. “Não tenho a pretensão de tocar cada um desses negócios e não acredito que se tentasse ser o gestor do dia-a-dia de cada um deles seria bom. O meu talento é mais ter a visão. Quando me perguntam qual o meu plano para daqui a cinco anos, eu digo que não sei. O meu plano é fazer o melhor possível nos próximos dois, três anos. Mas, acima de tudo, acredito que as pessoas devem ser recompensadas, que é importante o mérito e a qualidade.”
Adega na Quinta de Covela. "O que é que você precisa para fazer os seus vinhos de sonho aqui na Covela?", perguntaram os empresários ao enólogo Rui Cunha NELSON GARRIDO
Tendo nascido numa vila pequena, Marcelo tornou-se um homem do mundo, com uma paixão por viajar. Quando era adolescente, aborrecia-se com a ideia de ter de passar férias na fazenda da família. “A família do meu pai era da mesma região que a da minha mãe. Ele tinha 12 irmãos, o mais velho foi ser padre e levou o seguinte com ele para estudar, esse formou-se em Direito e levou o outro para estudar, e assim com os outros. O meu pai acabou decidindo ser comerciante, era dono de uma farmácia.”
Mais tarde, o pai comprou uma fazenda (e depois ainda chegou a comprar parte da fazenda do avô materno de Marcelo) e era aí que os perto de 80 primos passavam as férias. “Os meus primos da cidade todos contentes e eu, pré-adolescente, pronto para conhecer o mundo e pensando ‘meu deus, quero viajar, conhecer coisas novas’.” E, no entanto, foi ele quem herdou a parte da fazenda que tinha sido do avô materno e onde hoje tem gado e até plantou teca, a madeira do Sudeste asiático que demora 30 ou 40 anos para ficar pronta para vender.
Foi só em 2000 que Marcelo e Beatriz viajaram até Portugal. “Apaixonei-me por Portugal sem o conhecer. Eu e Beatriz fomos ver o filme A Casa da Rússia com o Sean Connery e a Michel Pfeiffer. Ele tinha uma casa em Alfama e ficava olhando Tejo. Eu adorei, e fiquei idealizando esse lugar até que viemos de viagem.”
Tony apaixonara-se por Portugal 12 anos antes. Tinha então 26 anos. “Cheguei aqui em 1988, um dia depois do incêndio do Chiado. Vinha enviado pela Associated Press, e o facto de no meu primeiro posto como correspondente ter um país inteiro para mim foi uma coisa fantástica.” Não era só um país, porque o posto em Lisboa veio com as ex-colónias, para onde também passou a viajar com frequência.
“Nunca tinha estado em Portugal. Quando recebi o convite, vim passar um final de semana para saber se ia gostar. Cheguei a Lisboa, olhei para aquela luz, olhei para rio, para o mosteiro dos Jerónimos…” Marcelo interrompe: “Ele disse que parecia Tânger.” De novo Tony: “Era exótico, diferente do resto da Europa, aquela luz, o céu azul, o branco das casas, disse logo que sim.” Até esse momento, a sua experiência profissional tinha sido em Frankfurt a cobrir o Bundesbank, e Lisboa era, claro, muito diferente. Só havia um problema: Tony não falava uma palavra de português.
“Tive de aprender”, conta. “De manhã ia para o Cambridge, na Av. da Liberdade, das 8h às 10h, e depois ia para o escritório na Praça da Alegria, por cima do Maxim’s. E rezava para que o telefone não tocasse, porque não entendia nada.” Ligava o rádio para ouvir o programa de António Sala, que “tinha uma dicção fantástica”. E foi aprendendo.
Até mudar radicalmente de vida e dedicar-se aos vinhos, Tony foi sempre um homem do jornalismo e, durante um período da sua vida, foi mesmo correspondente de guerra, escrevendo para a Associated Press e também para o The New York Times. Esteve em vários conflitos, da ex-Jugoslávia a África — até ao dia em que, durante uma breve passagem por Lisboa, entre uma guerra e outra, pensou que aquilo já não fazia sentido para ele.
Dedicou-se depois ao trabalho de editor, sobretudo com revistas, e era isso que fazia, para a Condé Nast Internacional, quando se mudou de Lisboa para São Paulo nesse ano de 2000 — o ano em que Marcelo e Beatriz fizeram uma longa viagem por Portugal, antes de Marcelo partir sozinho para o Uzbequistão, onde ouviu pela primeira vez falar em Tony.
Contada a história até aqui, temos de regressar ao tal momento, do início do texto, em que, depois de muito procurarem quintas, os dois decidem ir conhecer a Covela. Estávamos em 2009. “Marcelo estava indo para Istambul e eu para uma reunião da Condé Nast em Londres, trocámos os nossos voos e encontrámo-nos no Porto, fizemos um passeio com o senhor António, estava a chover a potes, para variar, e no final da visita ambos sentimos que aqui tinha tudo o que a gente queria: uma marca, beleza natural, algum património histórico e uma história interessante pela ligação com o Manoel de Oliveira. E, além disso, o Covela era o meu vinho do Verão.”
A quinta pertencia ao banco BPN, então já em insolvência, e por isso ia a leilão (já pela segunda vez, dado que na primeira não tinha havido comprador). Tony e Marcelo discutiram quanto iam oferecer e ficou decidido que seria um valor um pouco acima do preço base de licitação. “Fomos, e não havia mais ninguém a licitar”, conta o britânico. “Ainda hoje vejo a cena em câmara lenta, o homem com o martelo: uma, duas e… antes da terceira vem o protesto. Alguém disse ‘alto!”, só faltava aparecer a Julia Roberts a dizer ‘não vou casar, vou fugir’.”
Os emrpesários contrataram um arqueólogo para estudar as ruínas "porque não há registo histórico sobre elas" NELSON GARRIDO
Hoje Tony ri-se quando recorda o episódio, mas na altura ficou incrédulo, primeiro, e depois “tristíssimo”. A objecção veio do advogado do próprio BPN, que declarou que o banco não estava de acordo com o valor e se reservava o direito de fazer uma licitação própria. Saiu da sala por instantes para telefonar e quando voltou apresentou um valor 86% mais alto que o de Marcelo e Tony. Não havia nada a fazer. “O homem bateu o martelo, o BPN ganhou.”
Estamos agora a jantar no restaurante da Fundação Eça de Queiroz (um lugar favorito dos dois amigos e de Beatriz), especializado, como não podia deixar de ser, em “pratos queirosianos”, e enquanto nos servimos do frango alourado e do arroz de favas à moda de Tormes, em homenagem ao Jacinto de A Cidade e as Serras, Tony prossegue com a saga da Covela.
“Uma semana mais tarde, estava eu já de regresso ao Brasil, o nosso advogado liga-nos a dizer que o BPN não pagou o sinal, nem sequer a comissão do leiloeiro e que o administrador da insolvência estava tão furioso que os ia colocar em tribunal.” Tony e Marcelo pensaram que era o fim, imaginando já o caso a arrastar-se na justiça durante décadas. Mas — mais uma coincidência —, a certa altura, o amigo que apresentara a Tony os vinhos da Covela telefona-lhe a dizer que tinha sabido que o banco ia ser obrigado a vender tudo.
Marcelo intervém: “Fomos ao BPN para uma reunião, e comprámos a propriedade.” Estávamos em 2011 e a Covela tinha ficado abandonada durante praticamente dois anos. Os vinhos da vindima de 2009, que na primeira visita dos dois amigos estavam nas cubas, tinham sido abandonados e estavam estragados. Tony: “Eles podiam ter dito ao feitor, o senhor António, para ficar com as uvas, mas mandaram todo o mundo embora, e chegou uma altura em que não pagaram a conta da electricidade. A luz foi cortada e os 60 mil litros de vinho de 2009 perderam-se.”
Marcelo e Tony decidiram recontratar a antiga equipa da Covela, sete pessoas, todas de Baião. “Uma das coisas que nos chamou a atenção foi o facto de o salário das mulheres ser 40% mais baixo que os dos homens, para o mesmo trabalho”, recorda o brasileiro. “A gente achou totalmente sem sentido isso e subimos o salário das mulheres.”
As recontratações incluíram, claro, o enólogo Rui Cunha. Se era ele o homem que tinha já conseguido fazer vinhos diferentes, e muito bons, na Covela, seria ele a estar também nesta nova fase. “Na primeira reunião com o Rui, perguntei: ‘O que é que você precisa para fazer os seus vinhos de sonho aqui na Covela?’”, recorda Marcelo. “Ele me deu uma lista e eu disse: ‘Tudo bem, mas se daqui a três anos esse vinho não for realmente bom você não vai poder dizer que não tinha as condições ideais. O ‘se’ não vai valer.’ E ele aumentou a lista.”
A quinta, de produção biológica, foi toda recuperada, a vinha foi replantada, foram tomadas as decisões-chave. Uma das apostas de Rui Cunha era fazer um vinho verde. Mas essa é outra história. É que, mesmo depois de resolvido o problema da compra da quinta, as coisas continuaram a não ser fáceis para a firma Lima&Smith. É Tony quem recorda: “Tomámos a decisão de não vinificar a vindima de 2011 para não corrermos o risco de o nosso primeiro vinho não ser do nível que queríamos. E aí veio a vindima de 2012 — e deu tudo errado.”
“A gente acredita nas castas locais, o Avesso, o Arinto”, explica Marcelo Lima NELSON GARRIDO
O ano de 2012 foi assim: em Janeiro e Fevereiro “nem uma gota de chuva, tudo seco, seco”; e Março — precisamente na altura em que Tony concretizou a sua mudança radical de vida, transferindo-se de São Paulo para Baião — “foi o dilúvio”. No dia 29 de Julho, Tony estava sentado na varanda da sua casa, com vista para o Douro. “Olho para a esquerda e vejo uma coisa branca em cima do rio, vinda de Espanha. Era uma nuvem. De repente, ouço um barulho, pic, pic, pic. Pensei ‘isso não é chuva’. Olhei para fora — era granizo. Foram dois concelhos apanhados, Sabrosa e Baião. E nós perdemos metade do Chardonay. Foram, no máximo, dois minutos. É aí que você reconhece o seu lugar no esquema das coisas, percebe que não somos nada. Logo no primeiro ano, a gente não merecia isso. Tínhamos tido tanto cuidado, foi tudo muito bem pensado e, de repente, dois minutos e você não pode fazer nada.”
Decidiram dar a volta e tentar encontrar algo de bom no desastre. Rui tinha falado em fazer um vinho verde com a casta Avesso, mas tinham decidido que nesse ano iam fazer apenas uma experiência-piloto. Com a perda do Chardonay, “transformámos o piloto do Avesso no nosso plano B”. E o vinho foi um sucesso. Uma casta de Baião, muito pouco conhecida e “muito sensível” revelou-se uma aposta ganha. Depois fizeram o Arinto e as coisas correram também muito bem. “Na [revista] Wine & Spirits conseguiu 92 pontos, o que para um branco é muito bom e para um verde é quase inédito, só os Alvarinho é que geralmente conseguem pontuação acima dos 90”, afirma Tony.
“A gente acredita nas castas locais, o Avesso, o Arinto”, frisa Marcelo. “Antes fazia-se aqui 50% de tinto e 50% de branco. Decidimos, com o Rui, aumentar a percentagem dos brancos, e hoje, brancos e rosés representam quase 90%. O rosé — a ideia foi fazer um rosé mais leve — foi espectacularmente bem sucedido, foi quase todo vendido no primeiro dia da prova.” O terroir dos brancos estava encontrado e agora os dois investidores procuravam quintas onde pudessem dedicar-se aos tintos. No Verão de 2013, compraram à Sogrape a Quinta da Boavista (80 hectares, 40 dos quais de vinha e 9 de vinhas velhas), uma das mais emblemáticas do Douro. É para lá que nos dirigimos, com Tony ao volante, na manhã seguinte. E de seguida compraram à Dão Sul a Quinta das Tecedeiras (67 hectares, na sub-região do Cima-Corgo) e um nome herdado das freiras que ali viviam e que se dedicavam à tecelagem do linho), onde fazem o Flor das Tecedeiras e o Porto Quinta das Tecedeiras LBV.
Tony pára o carro à entrada da Boavista. Para os vinhos desta quinta histórica, ligada ao Barão de Forrester, que aqui pernoitava enquanto desenhava o seu célebre mapa do Douro, a Lima & Smith vai contar com uma consultoria de luxo: Jean Claude Berrouet, o enólogo que durante cerca de 40 anos fez em Bordéus um dos mais prestigiados e mais caros vinhos do mundo, o Pétrus. Berrouet já está a trabalhar com Rui Cunha e os primeiros vinhos da Boavista deverão chegar ao mercado no final de 2015.
A aproximação ao famoso enólogo francês, conhecido pelo enorme respeito pelas características de cada terroir, foi facilitada pela ligação da Lima&Smith à Champy, histórica casa de vinhos da Borgonha, em cujo capital os dois produtores do Douro entraram este ano.
Situada na margem direita do Douro, perto do Pinhão, a quinta tem uma paisagem completamente diferente da da Covela, mas não menos impressionante, mantendo ainda os terraços antigos, anteriores à filoxera que destruiu as vinhas da região. Ao fundo dos socalcos, junto ao cais para as embarcações, surge o Douro. Tony aponta para a entrada da quinta. “Aqui é a antiga alfândega. Antigamente a Boavista servia não só para as próprias uvas serem transportadas rio abaixo, mas também para as uvas de outras quintas, que pagavam portagem aqui.”
Sala de visitas na Quinta de Covela NELSON GARRIDO
Um papa-figos levanta voo sobre a vinha. Tony continua: “Quando descobriram que a cura para a filoxera era o [porta-enxerto] ‘americano’ onde eram enxertadas as castas locais, voltaram a plantar vinha mas toda em terraços novos, ninguém plantou nos antigos.” De onde estamos vê-se o “oratório”, com os terraços altos, ondulando no terreno. “São dos terraços mais altos do Douro, alguns têm oito e nove metros de altura.”
A quinta — onde além da paisagem extraordinária, existem os velhos lagares de pedra, preservados, e o cais onde se pode chegar de barco — vai poder ser visitada, tal como já acontece com a Covela. Tony e Marcelo querem apostar no enoturismo de dia, que permite aos visitantes conhecer as quintas e provar os vinhos num ambiente descontraído. “Normalmente, quando você vai numa vinícola, explicam tudo, desde o carvalho francês à maceração, e essas coisas técnicas não interessam à maioria das pessoas”, diz o brasileiro. “O que nós queremos fazer é aquilo a que se chama casual tasting [provas informais], acredito que esse deverá ser o nosso caminho.”
Sentamos-nos para almoçar na Casa do Barão. Conversamos sobre os projectos da Lima&Smith, a aposta nos mercados internacionais, sobretudo Brasil, Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, nos estrangeiros que têm trazido à região e que daqui saem sempre encantados com a paisagem do Douro. Mas também da necessidade de se fazer mais para promover os vinhos portugueses e o Douro, de pensar melhor nas infra-estruturas — “em Napa Valley, há um wine train que sobe e desce o vale quatro vezes por dia, com almoço a bordo se você quiser”, lembra Tony.
Na véspera, Marcelo dissera que a valorização do vinho português é o seu objectivo de médio e longo prazo: “É um trabalho que nós, produtores de vinho em Portugal, vamos ter de fazer em conjunto para ganhar mais espaço nas listas de vinhos do mundo inteiro. Não faz sentido que hoje Portugal não tenha num qualquer restaurante no estrangeiro um espaço de garrafeira pelo menos igual ao de países como a África do Sul ou a Nova Zelândia. Há críticas muito boas aos vinhos portugueses, mas temos de traduzir essas críticas em melhor distribuição e num trabalho de branding, para combater a tendência que ainda existe de os vinhos portugueses ficarem só nos restaurantes portugueses.”
Olhamos lá para fora. É possível que, no século XIX, o barão de Forrester tenha olhado por esta mesma janela, vendo os terraços plantados com vinha e o Douro lá em baixo, enquanto desenhava o seu mapa e pensava no futuro do vinho do Porto.
Hoje, no século XXI, quem olha pela mesma janela são um britânico e um brasileiro, com uma história que começa no Uzbequistão, atravessa oceanos, percorre países vinícolas à procura da propriedade certa, encanta-se com a que pertenceu ao mais histórico dos realizadores de cinema portugueses, enfrenta um banco em desnorte e um granizo impiedoso para chegar até aqui, às margens do Douro.
E para, mais uma vez, transformar estas uvas em vinhos únicos e especiais. Não foi por acaso que, depois de anos a percorrer quintas no mundo, Marcelo e Tony chegaram aqui e pararam
ALEXANDRA PRADO COELHO
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segunda-feira, novembro 03, 2014
segunda-feira, outubro 27, 2014
Produtores de vinho do Brasil comemoram recorde nas exportações
País nunca vendeu tanto vinho lá fora: mais de R$ 16 milhões em apenas seis meses, 250% a mais do que no primeiro semestre do ano passado.
Os produtores de vinho do Brasil estão comemorando um recorde histórico nas exportações. No Rio Grande do Sul, de onde sai quase toda a produção, essa celebração tem sido compartilhada com milhares de turistas.
Nossos vinhos e espumantes conquistaram até a França, considerado o mercado mais exigente do planeta. E não só ela: outros 35 países se renderam ao produto brasileiro. Tem rótulo até para japonês ler.
“Vinho brasileiro vem numa crescente de qualidade há muitos anos, e hoje ele se mostra um vinho muito leve, um vinho agradável, frutado. Sempre com essa característica que o consumidor vai buscar quando se fala em Brasil. Ele vai buscar uma bebida alegre”, afirma o enólogo André Peres Júnior.
O Brasil nunca vendeu tanto vinho lá fora: mais de R$ 16 milhões em apenas seis meses, 250% a mais do que no primeiro semestre do ano passado.
Vinícolas grandes ou pequenas, todas comemoram. Como a mostrada no vídeo, que estoca o vinho engarrafado em casa, junto com as geleias e biscoitos feitos pela família. Parece um negócio informal, mas os três irmãos são os autores do vinho da Copa.
“Ver o consumidor degustando um vinho que foi feito pela nossa equipe, pela nossa família, é a realização com certeza do sonho de vida nosso”, conta Giovanni Carraro, proprietário de vinícola.
A carta de vinhos nacional é extensa, e cada um é motivo de orgulho. O Vale dos Vinhedos é um dos pedaços mais lindos dessa terra. Um lugar coberto por parreirais que às vezes abrem espaço para casarões e estradinhas, como a do vídeo, que levam às vinícolas, onde os turistas ouvem que o vinho é feito também de cultura e vivência.
Eles vêm de todos os lugares do Brasil. Oitenta mil só no inverno. Conhecem as parreiras. Alguns plantados há quase cem anos. Visitam as caves, onde barris de carvalho trabalham o aroma e o paladar. São recebidos nas vinícolas pelos próprios donos. Uma confraternização com música típica, mesa farta e vinho à vontade.
Os produtores de vinho do Brasil estão comemorando um recorde histórico nas exportações. No Rio Grande do Sul, de onde sai quase toda a produção, essa celebração tem sido compartilhada com milhares de turistas.
Nossos vinhos e espumantes conquistaram até a França, considerado o mercado mais exigente do planeta. E não só ela: outros 35 países se renderam ao produto brasileiro. Tem rótulo até para japonês ler.
“Vinho brasileiro vem numa crescente de qualidade há muitos anos, e hoje ele se mostra um vinho muito leve, um vinho agradável, frutado. Sempre com essa característica que o consumidor vai buscar quando se fala em Brasil. Ele vai buscar uma bebida alegre”, afirma o enólogo André Peres Júnior.
O Brasil nunca vendeu tanto vinho lá fora: mais de R$ 16 milhões em apenas seis meses, 250% a mais do que no primeiro semestre do ano passado.
Vinícolas grandes ou pequenas, todas comemoram. Como a mostrada no vídeo, que estoca o vinho engarrafado em casa, junto com as geleias e biscoitos feitos pela família. Parece um negócio informal, mas os três irmãos são os autores do vinho da Copa.
“Ver o consumidor degustando um vinho que foi feito pela nossa equipe, pela nossa família, é a realização com certeza do sonho de vida nosso”, conta Giovanni Carraro, proprietário de vinícola.
A carta de vinhos nacional é extensa, e cada um é motivo de orgulho. O Vale dos Vinhedos é um dos pedaços mais lindos dessa terra. Um lugar coberto por parreirais que às vezes abrem espaço para casarões e estradinhas, como a do vídeo, que levam às vinícolas, onde os turistas ouvem que o vinho é feito também de cultura e vivência.
Eles vêm de todos os lugares do Brasil. Oitenta mil só no inverno. Conhecem as parreiras. Alguns plantados há quase cem anos. Visitam as caves, onde barris de carvalho trabalham o aroma e o paladar. São recebidos nas vinícolas pelos próprios donos. Uma confraternização com música típica, mesa farta e vinho à vontade.
terça-feira, setembro 16, 2014
7 dicas espertas para degustar um vinho
Nunca me senti tão esperta quanto nos quatro dias que passei no Uruguai durante o Salão Internacional de Vinho e Gastronomia, do Mantra Resort de Punta del Este, em agosto. "A senhora é uma das espertas, não é?", perguntava a recepcionista. "Sim, claro!". O segurança me informava que nós, os espertos, tínhamos direito a uma área reservada dentro do salão. O gerente do hotel fez um agradecimento especial a nós, o grupo internacional de espertos ali reunidos para o Expert Speed Tasting. Não querendo chamar o leitor de pouco esperto, acho bom esclarecer que os uruguaios estavam dizendo "experta", "experto", com "x", que em espanhol quer dizer especialista.
Fiz parte de um grupo de especialistas convidados pelo Bodegas del Uruguay para avaliar o trabalho de algumas das mais importantes vinícolas do país. Na degustação, provamos e comentamos 19 vinhos de diferentes vinícolas. Depois, na feira, degustei mais algumas dezenas. Claro, aprendi muito sobre o vinho uruguaio (veja o post "Vinhos que provei e aprovei"). Mas não só. A oportunidade foi boa também para observar o trabalho dos especialistas, refletir sobre o que é ser esperto quando se trata de vinho e lembrar de alguns pontos básicos. A seguir, algumas observações tiradas desse e de outros eventos:
1. Temperatura faz toda a diferença
Um dos vinhos chegou à nossa mesa (minha, de um jornalista argentino e outro chileno) um pouco frio demais. Parecia sem gosto e sem aroma de nada. Espertos que somos, reparamos que o problema era a temperatura. O consumidor comum, todavia, poderia ter bebido e nem notado. Ficaria apenas com uma impressão de que aquela garrafa era ruim. Conforme foi esquentando, o vinho foi melhorando. No nariz, foram surgindo os aromas e, na boca, foi ganhando corpo. Frio em excesso inibe aromas. No tinto, amarga os taninos. Por outro lado, quando a garrafa está quente demais, o álcool se sobressai, a acidez desaparece, o vinho fica pesado e chato. No post "Na temperatura certa", ensino a quantos graus deve ser servido cada vinho e qual o tempo de balde de gelo para chegar lá.
2. Se quiser apreciar os aromas de um vinho, não use perfume forte
Em degustações profissionais, é regra não usar perfume para não encobrir os aromas do vinho. Ninguém tem como provar se você se encheu de Chanel Nº 5 ou não, mas as pessoas têm nariz, percebem. E pega mal. Na vida normal, essa regra é mais flexível. Mas, se você for a um wine bar ou a qualquer evento em que o vinho seja o centro das atenções, tente evitar perfumes fortes. Mesmo se vai beber sozinho e quer aproveitar ao máximo os aromas do vinho, escolha um perfume pouco intenso.
3. Entre um vinho e outro, nada de lavar a taça com água
É comum as pessoas passarem uma água na taça quando vão trocar de garrafa. Essa não é a melhor solução para se livrar dos aromas do vinho anterior. Além de não funcionar muito bem, pode deixar o vinho seguinte meio aguado. O ideal é avinhar a taça: colocar um pouquinho (bem menos que o da foto) do vinho que você vai beber, girar, fazer ele passar por toda a superfície e, em seguida, dispensar o líquido. Faça isso ao menos quando for mudar de um branco para um tinto.
4. Se sentir um cheiro ruim, espere um pouco, talvez passe
Alguma vez você já abriu uma garrafa de vinho e sentiu um cheiro podre, de enxofre? Certo de que aquilo estava estragado, deixou a garrafa de lado e foi beber outras coisa?. De repente, veio alguém, bebeu o vinho e disse que estava ótimo? Aí você, cheirou, e não é que o desgraçado estava bom mesmo! Horrível, né? Fica parecendo que você não entende nada de vinho e é completamente Maria-vai-com-as-outras. Mas você não está louco. Um vinho pode estar horrível logo que abre e depois ficar bom. Esse mau cheiro pode ser do conservante SO2, enxofre ou algo parecido. Todo vinho leva SO2, ou pelo menos 99,99% deles. Só que em alguns, por razões diferentes, esse enxofre aparece mais quando a garrafa é destampada. É só esperar uns minutinhos que esse cheiro vai embora. Se você esperou 10 minutos e continua cheirando mal, é bem provável que a garrafa esteja contaminada com Brett (uma levedura selvagem) ou esteja bouchonnée (problema da rolha). Aí não há o que fazer a não ser trocar de garrafa. O brett deixa um cheiro de cachorro molhado no vinho, desagradável, mas na maioria das vezes não insuportável. Existe até o brett que é considerado bom, dá um aroma de terra, couro, cogumelos. Já o vinho bouchonné só vai piorando depois de aberto: fica com gosto de parede. Na prova dos vinhos uruguaios, tinha um que estava bouchonné. rodamos, rodamos a taça, e ele só piorava. Não é culpa do produtor. Pode acontecer com qualquer um.
5. Se não sentir cheiro nenhum, insista, o vinho pode estar fechado
Por outro lado, você pode abrir a garrafa, colocar o vinho no copo, dar aquela fungadinha básica e nada! O vinho tem cheiro de coisa nenhuma. Ai começa a tomar e vai achando o vinho uma delícia. Às vezes, essa mudança de opinião pode ser atribuída à bebedeira, mas muitas vezes não. O vinho estava o que a gente chama de fechado e vai se abrindo. Não vamos entrar em detalhes de química, mas o que acontece é uma reação provocada pelo contato com o oxigênio. Se o vinho custou 30 paus e não tem cheiro de nada, é provável que ele continue assim. Mas, se é um vinho um pouco mais caro, mesmo um bordeaux de R$ 50, R$ 60, dê um tempo. Sirva as taças e peça para o pessoal agitar. Lá no grupo de espertos aprendi uma coisa realmente nova. Veio um vinho assim completamente fechado, e o jornalista argentino tapou a boca da taça com a mão e chacoalhou como se fosse uma coqueteleira. A ideia é aumentar o contato com o ar. Eu e o chileno copiamos imediatamente. O vinho realmente abriu e ficou bem melhor. Mas, por favor, só não faça essa feiúra num restaurante e diga que a Tânia Nogueira ensinou!
6. Um vinho não precisa ser perfeito
Há pessoas que têm o rosto todo certinho e, ainda assim, são sem graça. Outras que têm "imperfeições" e são radiantes. Um nariz um pouco maior que o normal, um dente levemente para a frente, uma sobrancelha mais grossa são detalhes que não costumam tirar a beleza de um rosto harmônico. Pelo contrário, muitas vezes, acrescentam personalidade e charme. Com o vinho acontece exatamente a mesma coisa. Tem aquele vinho todo certinho, frutado, taninos redondos, acidez na medida, o álcool não se sobressai, mas, apesar de tudo isso, você toma e no dia seguinte esquece que ele existe. Outros têm um pouco mais de acidez, taninos levemente rugosos, aromas menos fáceis como os animais ou químicos e, sem saber bem por que, você se apaixona. Numa degustação de "espertos", a gente houve frases como: "tem uma rugosidade deliciosa", "essa acidez pronunciada vai ficar ótima com comida" ou "tem aroma de plástico, que delícia!". Não que os "espertos" sejam loucos, é que eles tomam vinho o dia inteiro e muitos se cansam de vinhos com tudo certinho. Querem personalidade. Eu, pelo menos, adoro quando encontro um vinho único, que não é perfeito, mas é uma delícia. Aventure-se com vinhos europeus e logo verá do que estou falando.
7. Seja seu próprio crítico
Exceto atrocidades, não existe vinho ruim ou vinho bom. Existe o vinho que você gosta. Durante a avaliação, como disse, sentei em uma mesa com um jornalista argentino, de Mendoza, e outro chileno, de Santiago. Ambos nasceram tomando vinho e têm bastante experiência. Eu não nasci em nenhuma região produtora, mas tomo vinho há anos. Nem por isso, concordamos em tudo. Por sua vez, um dos vinhos mais criticados na minha mesa, por ter excesso de carvalho, foi o preferido de um especialista brasileiro de outra mesa como fiquei sabendo depois. Experts boa parte das vezes não concordam entre si. Mesmo os mais famosos. Robert Parker dá uma nota para um rótulo, Jancis Robinson dá outra. A revista inglesa Decanter diz uma coisa , a americana Wine Spectador publica o oposto. Você adorar um vinho que eu odeio ou detestar um vinho que eu amo não quer dizer nada. Ouça o que os "espertos" dizem, mas preste mais atenção a seu olfato e seu paladar.
Fonte:Brasil Post
Fiz parte de um grupo de especialistas convidados pelo Bodegas del Uruguay para avaliar o trabalho de algumas das mais importantes vinícolas do país. Na degustação, provamos e comentamos 19 vinhos de diferentes vinícolas. Depois, na feira, degustei mais algumas dezenas. Claro, aprendi muito sobre o vinho uruguaio (veja o post "Vinhos que provei e aprovei"). Mas não só. A oportunidade foi boa também para observar o trabalho dos especialistas, refletir sobre o que é ser esperto quando se trata de vinho e lembrar de alguns pontos básicos. A seguir, algumas observações tiradas desse e de outros eventos:
1. Temperatura faz toda a diferença
Um dos vinhos chegou à nossa mesa (minha, de um jornalista argentino e outro chileno) um pouco frio demais. Parecia sem gosto e sem aroma de nada. Espertos que somos, reparamos que o problema era a temperatura. O consumidor comum, todavia, poderia ter bebido e nem notado. Ficaria apenas com uma impressão de que aquela garrafa era ruim. Conforme foi esquentando, o vinho foi melhorando. No nariz, foram surgindo os aromas e, na boca, foi ganhando corpo. Frio em excesso inibe aromas. No tinto, amarga os taninos. Por outro lado, quando a garrafa está quente demais, o álcool se sobressai, a acidez desaparece, o vinho fica pesado e chato. No post "Na temperatura certa", ensino a quantos graus deve ser servido cada vinho e qual o tempo de balde de gelo para chegar lá.
2. Se quiser apreciar os aromas de um vinho, não use perfume forte
Em degustações profissionais, é regra não usar perfume para não encobrir os aromas do vinho. Ninguém tem como provar se você se encheu de Chanel Nº 5 ou não, mas as pessoas têm nariz, percebem. E pega mal. Na vida normal, essa regra é mais flexível. Mas, se você for a um wine bar ou a qualquer evento em que o vinho seja o centro das atenções, tente evitar perfumes fortes. Mesmo se vai beber sozinho e quer aproveitar ao máximo os aromas do vinho, escolha um perfume pouco intenso.
3. Entre um vinho e outro, nada de lavar a taça com água
É comum as pessoas passarem uma água na taça quando vão trocar de garrafa. Essa não é a melhor solução para se livrar dos aromas do vinho anterior. Além de não funcionar muito bem, pode deixar o vinho seguinte meio aguado. O ideal é avinhar a taça: colocar um pouquinho (bem menos que o da foto) do vinho que você vai beber, girar, fazer ele passar por toda a superfície e, em seguida, dispensar o líquido. Faça isso ao menos quando for mudar de um branco para um tinto.
4. Se sentir um cheiro ruim, espere um pouco, talvez passe
Alguma vez você já abriu uma garrafa de vinho e sentiu um cheiro podre, de enxofre? Certo de que aquilo estava estragado, deixou a garrafa de lado e foi beber outras coisa?. De repente, veio alguém, bebeu o vinho e disse que estava ótimo? Aí você, cheirou, e não é que o desgraçado estava bom mesmo! Horrível, né? Fica parecendo que você não entende nada de vinho e é completamente Maria-vai-com-as-outras. Mas você não está louco. Um vinho pode estar horrível logo que abre e depois ficar bom. Esse mau cheiro pode ser do conservante SO2, enxofre ou algo parecido. Todo vinho leva SO2, ou pelo menos 99,99% deles. Só que em alguns, por razões diferentes, esse enxofre aparece mais quando a garrafa é destampada. É só esperar uns minutinhos que esse cheiro vai embora. Se você esperou 10 minutos e continua cheirando mal, é bem provável que a garrafa esteja contaminada com Brett (uma levedura selvagem) ou esteja bouchonnée (problema da rolha). Aí não há o que fazer a não ser trocar de garrafa. O brett deixa um cheiro de cachorro molhado no vinho, desagradável, mas na maioria das vezes não insuportável. Existe até o brett que é considerado bom, dá um aroma de terra, couro, cogumelos. Já o vinho bouchonné só vai piorando depois de aberto: fica com gosto de parede. Na prova dos vinhos uruguaios, tinha um que estava bouchonné. rodamos, rodamos a taça, e ele só piorava. Não é culpa do produtor. Pode acontecer com qualquer um.
5. Se não sentir cheiro nenhum, insista, o vinho pode estar fechado
Por outro lado, você pode abrir a garrafa, colocar o vinho no copo, dar aquela fungadinha básica e nada! O vinho tem cheiro de coisa nenhuma. Ai começa a tomar e vai achando o vinho uma delícia. Às vezes, essa mudança de opinião pode ser atribuída à bebedeira, mas muitas vezes não. O vinho estava o que a gente chama de fechado e vai se abrindo. Não vamos entrar em detalhes de química, mas o que acontece é uma reação provocada pelo contato com o oxigênio. Se o vinho custou 30 paus e não tem cheiro de nada, é provável que ele continue assim. Mas, se é um vinho um pouco mais caro, mesmo um bordeaux de R$ 50, R$ 60, dê um tempo. Sirva as taças e peça para o pessoal agitar. Lá no grupo de espertos aprendi uma coisa realmente nova. Veio um vinho assim completamente fechado, e o jornalista argentino tapou a boca da taça com a mão e chacoalhou como se fosse uma coqueteleira. A ideia é aumentar o contato com o ar. Eu e o chileno copiamos imediatamente. O vinho realmente abriu e ficou bem melhor. Mas, por favor, só não faça essa feiúra num restaurante e diga que a Tânia Nogueira ensinou!
6. Um vinho não precisa ser perfeito
Há pessoas que têm o rosto todo certinho e, ainda assim, são sem graça. Outras que têm "imperfeições" e são radiantes. Um nariz um pouco maior que o normal, um dente levemente para a frente, uma sobrancelha mais grossa são detalhes que não costumam tirar a beleza de um rosto harmônico. Pelo contrário, muitas vezes, acrescentam personalidade e charme. Com o vinho acontece exatamente a mesma coisa. Tem aquele vinho todo certinho, frutado, taninos redondos, acidez na medida, o álcool não se sobressai, mas, apesar de tudo isso, você toma e no dia seguinte esquece que ele existe. Outros têm um pouco mais de acidez, taninos levemente rugosos, aromas menos fáceis como os animais ou químicos e, sem saber bem por que, você se apaixona. Numa degustação de "espertos", a gente houve frases como: "tem uma rugosidade deliciosa", "essa acidez pronunciada vai ficar ótima com comida" ou "tem aroma de plástico, que delícia!". Não que os "espertos" sejam loucos, é que eles tomam vinho o dia inteiro e muitos se cansam de vinhos com tudo certinho. Querem personalidade. Eu, pelo menos, adoro quando encontro um vinho único, que não é perfeito, mas é uma delícia. Aventure-se com vinhos europeus e logo verá do que estou falando.
7. Seja seu próprio crítico
Exceto atrocidades, não existe vinho ruim ou vinho bom. Existe o vinho que você gosta. Durante a avaliação, como disse, sentei em uma mesa com um jornalista argentino, de Mendoza, e outro chileno, de Santiago. Ambos nasceram tomando vinho e têm bastante experiência. Eu não nasci em nenhuma região produtora, mas tomo vinho há anos. Nem por isso, concordamos em tudo. Por sua vez, um dos vinhos mais criticados na minha mesa, por ter excesso de carvalho, foi o preferido de um especialista brasileiro de outra mesa como fiquei sabendo depois. Experts boa parte das vezes não concordam entre si. Mesmo os mais famosos. Robert Parker dá uma nota para um rótulo, Jancis Robinson dá outra. A revista inglesa Decanter diz uma coisa , a americana Wine Spectador publica o oposto. Você adorar um vinho que eu odeio ou detestar um vinho que eu amo não quer dizer nada. Ouça o que os "espertos" dizem, mas preste mais atenção a seu olfato e seu paladar.
Fonte:Brasil Post
terça-feira, setembro 09, 2014
“Vinhos baratos” não farão mais parte do menu dos mais de 400 hotéis Sheraton no mundo
BOSTON - Segundo Hoyt Harper II, um dos líderes da marca e VP sênior de Brand Management da Starwood, os hóspedes mais frequentes do hotel solicitaram mudança nas operações da bebida: eles preferem pagar mais para ter vinhos “premium”.
“Não só o Sheraton, mas também a maioria de seus concorrentes diretos, fazem a escolha com o critério do preço, mas o feedback dos hóspedes mais regulares do Sheraton mostra que eles estão mais interessados em bons vinhos, mesmo que pague em média US$ 4 a mais por taça”, explica. “Isso mostra dedicação, e o hóspede sente isso, até porque a bebida está quase sempre presente em momentos de socialização de executivos, e é importante na maneira como se dão os negócios.”
A estratégia, então, foi fazer uma parceria para usar os critérios de seleção da Wine Expectator Magazine, revista norte-americana especializada no assunto. De acordo com Harper, a nova parceira é muito criteriosa, e os 8% de seus vinhos que são realmente bem avaliados já estão fazendo parte de um grande número de unidades. Para Sheratons de cada região diferente, um tipo de vinho é indicado.
A bebida ocupa um espaço de 30% entre as mais vendidas nas unidades da marca. Portanto, para Harper, essa “foi uma escolha vitoriosa”. “Os clientes estão amando, principalmente pelo fato de não terem de pedir uma garrafa, assim experimentam taças de diferentes tipos”, aponta. “Gastronomia é um fator de extrema importância quando se trata de Sheraton. Os hóspedes, na maioria de perfil corporativo, são exigentes e querem ter boas experiências”, completa.
Portal PANROTAS
“Não só o Sheraton, mas também a maioria de seus concorrentes diretos, fazem a escolha com o critério do preço, mas o feedback dos hóspedes mais regulares do Sheraton mostra que eles estão mais interessados em bons vinhos, mesmo que pague em média US$ 4 a mais por taça”, explica. “Isso mostra dedicação, e o hóspede sente isso, até porque a bebida está quase sempre presente em momentos de socialização de executivos, e é importante na maneira como se dão os negócios.”
A estratégia, então, foi fazer uma parceria para usar os critérios de seleção da Wine Expectator Magazine, revista norte-americana especializada no assunto. De acordo com Harper, a nova parceira é muito criteriosa, e os 8% de seus vinhos que são realmente bem avaliados já estão fazendo parte de um grande número de unidades. Para Sheratons de cada região diferente, um tipo de vinho é indicado.
A bebida ocupa um espaço de 30% entre as mais vendidas nas unidades da marca. Portanto, para Harper, essa “foi uma escolha vitoriosa”. “Os clientes estão amando, principalmente pelo fato de não terem de pedir uma garrafa, assim experimentam taças de diferentes tipos”, aponta. “Gastronomia é um fator de extrema importância quando se trata de Sheraton. Os hóspedes, na maioria de perfil corporativo, são exigentes e querem ter boas experiências”, completa.
Portal PANROTAS
terça-feira, setembro 02, 2014
O vinho sabe viajar?
A exportação é uma das grandes prioridades nacionais, um imperativo e uma necessidade absoluta para a maioria dos produtores portugueses.
Uma inevitabilidade alimentada não só pela crise económica endémica que teima em não nos largar como uma necessidade criada pela contracção do mercado, contracção anterior ao eclodir da crise e sem ligação directa com a mesma. Bebemos menos vinho hoje que no passado, bebemos com mais moderação, bebemos menos mas melhor, seguindo uma tendência que é transversal a toda a Europa do Sul, à Europa produtora tradicional de vinho.
Por isso a exportação é inevitável, porque a produção aumenta ao mesmo tempo que o mercado nacional se contrai. Desbravar caminho para novos mercados é, pois, mais que um imperativo, uma inevitabilidade. Enquanto uma grande parte da Europa do Sul diminui o consumo, a outra Europa, a do Norte, tradicionalmente menos familiarizado com o vinho, aumenta o consumo e o interesse pelo vinho. O continente americano, não só do Norte como da América latina, mostra igualmente um apetite crescente pelo vinho, tal como parte da Ásia, embora de forma menos pronunciada.
Para conquistar estes mercados é preciso um esforço titânico de promoção, educação e adaptação, viagens frequentes, visitas a importadores e putativos distribuidores, presenças em feiras e eventos e um sem fim de outras solicitações e diligências. Espanha, França, Itália, Alemanha, Áustria, Argentina, Chile, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia e uma infinidade de outros países sofrem as mesmas vicissitudes que Portugal procurando os mesmos mercados, disputando o mesmo espaço, os mesmos importadores, as mesmas quotas de mercado nos países de monopólio estatal.
Exportar é uma dificuldade mas encontrar importador, vender o vinho, voltar a receber encomendas e cobrar, sempre um dos momentos mais melindrosos das transacções, são apenas os primeiros dilemas com que o produtor se depara. A outra dificuldade, quase sempre ignorada e frequentemente menosprezada, é o transporte dos vinhos até aos mercados e aos pontos de venda. Temos tendência para esquecer que o vinho é um produto alimentar e que como tal obriga a formas de conservação particulares. Consequentemente, obriga igualmente a condições de transporte que requerem requisitos de temperatura que a maioria das transportadoras não tem nem condições para cumprir nem conhecimentos para implementar.
A maioria dos vinhos são transportados em contentores, quase sempre por via marítima, contentores que salvo raríssimas excepções, e as excepções são mesmo raríssimas, não são climatizados. E mesmo que os contentores fossem climatizados, coisa impraticável pelo preço incomportável, quem poderia garantir que o circuito de refrigeração se mantinha em todos os passos do transporte, desde o embarque até ao desembarque e desalfândega, desde o armazenamento nos entrepostos de importadores, distribuidores e pontos de venda até ao transporte entre os armazéns e os supermercados, garrafeiras ou restauração? E quem garante que em cada um destes pontos de venda os vinhos são bem acondicionados e preservados?
Significa isto que os vinhos chegam ao mercado, sobretudo na exportação, estragados ou impróprios para consumo? Significa que estamos perante um caso de saúde pública? Claro que não, o vinho é extremamente resiliente e capaz de suportar maus tratos, mesmo que consumados de forma mais ou menos contínua. Não se trata, portanto, de um caso de ameaça à saúde pública, mas sim de uma diminuição das propriedades, condicionantes muito mais delicadas e potencialmente mais difíceis de resolver e entender. Significa que, apesar de continuar bebível, e até potencialmente notável, o vinho perdeu muitas das suas qualidades e dos seus predicados iniciais, surgindo diminuído face às qualidades e ao seu perfil original.
Basta beber alguns vinhos portugueses noutros mercados, sobretudo nos países de clima mais quente e extremado e onde a rede de refrigeração é menos cuidada, para sentir as diferenças dos vinhos face aos testemunhos que ficaram em Portugal. Nem todos os vinhos sofrem o mal da mesma forma e alguns vinhos ou estilos viajam com mais facilidade que outros. Os vinhos generosos, por exemplo, vinhos como o Vinho do Porto, Vinho da Madeira ou Moscatel, são mais tenazes e sentem menos as agruras da viagem sobretudo, no caso do Vinho do Porto, os vinhos da família Tawny. Pelo contrário, os vinhos que mais sofrem são os brancos, especialmente os mais delicados, perdendo frequentemente muita da frescura inicial e desbaratando quase todas as subtilezas aromáticas originais, como que envelhecendo anos em escassos meses de vida.
Num mundo ideal, isto não aconteceria e o circuito de frio seria mantido em todos os momentos de viagem ou guarda. Infelizmente, sabemos que vivemos num mundo que está muito longe de ser perfeito. Se formos rigorosos, percebemos que este problema não é exclusivo dos mercados de exportação. Também em Portugal, independentemente de serem garrafeiras especializadas, lojas tradicionais, grandes superfícies, restaurantes ou hotelaria, independentemente de serem armazéns de logística ou carrinhas de distribuição a fazer entregas, se sentem os efeitos da falta de cuidado, a falta de conhecimento sobre as regras de conservação do vinho, ou a falta de incentivo para efectuar investimentos dispendiosos.
Quem sofre directamente com esta realidade somos nós, consumidores e compradores de vinho, bem como os produtores. As pequenas imperfeições que resultam da má conservação do vinho nem sempre são visíveis ou facilmente compreensíveis pelos consumidores que simplesmente, e naturalmente, penalizam o produtor pensando que o vinho “já foi melhor”…
FugasVinhos - Por Rui Falcão
Uma inevitabilidade alimentada não só pela crise económica endémica que teima em não nos largar como uma necessidade criada pela contracção do mercado, contracção anterior ao eclodir da crise e sem ligação directa com a mesma. Bebemos menos vinho hoje que no passado, bebemos com mais moderação, bebemos menos mas melhor, seguindo uma tendência que é transversal a toda a Europa do Sul, à Europa produtora tradicional de vinho.
Por isso a exportação é inevitável, porque a produção aumenta ao mesmo tempo que o mercado nacional se contrai. Desbravar caminho para novos mercados é, pois, mais que um imperativo, uma inevitabilidade. Enquanto uma grande parte da Europa do Sul diminui o consumo, a outra Europa, a do Norte, tradicionalmente menos familiarizado com o vinho, aumenta o consumo e o interesse pelo vinho. O continente americano, não só do Norte como da América latina, mostra igualmente um apetite crescente pelo vinho, tal como parte da Ásia, embora de forma menos pronunciada.
Para conquistar estes mercados é preciso um esforço titânico de promoção, educação e adaptação, viagens frequentes, visitas a importadores e putativos distribuidores, presenças em feiras e eventos e um sem fim de outras solicitações e diligências. Espanha, França, Itália, Alemanha, Áustria, Argentina, Chile, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia e uma infinidade de outros países sofrem as mesmas vicissitudes que Portugal procurando os mesmos mercados, disputando o mesmo espaço, os mesmos importadores, as mesmas quotas de mercado nos países de monopólio estatal.
Exportar é uma dificuldade mas encontrar importador, vender o vinho, voltar a receber encomendas e cobrar, sempre um dos momentos mais melindrosos das transacções, são apenas os primeiros dilemas com que o produtor se depara. A outra dificuldade, quase sempre ignorada e frequentemente menosprezada, é o transporte dos vinhos até aos mercados e aos pontos de venda. Temos tendência para esquecer que o vinho é um produto alimentar e que como tal obriga a formas de conservação particulares. Consequentemente, obriga igualmente a condições de transporte que requerem requisitos de temperatura que a maioria das transportadoras não tem nem condições para cumprir nem conhecimentos para implementar.
A maioria dos vinhos são transportados em contentores, quase sempre por via marítima, contentores que salvo raríssimas excepções, e as excepções são mesmo raríssimas, não são climatizados. E mesmo que os contentores fossem climatizados, coisa impraticável pelo preço incomportável, quem poderia garantir que o circuito de refrigeração se mantinha em todos os passos do transporte, desde o embarque até ao desembarque e desalfândega, desde o armazenamento nos entrepostos de importadores, distribuidores e pontos de venda até ao transporte entre os armazéns e os supermercados, garrafeiras ou restauração? E quem garante que em cada um destes pontos de venda os vinhos são bem acondicionados e preservados?
Significa isto que os vinhos chegam ao mercado, sobretudo na exportação, estragados ou impróprios para consumo? Significa que estamos perante um caso de saúde pública? Claro que não, o vinho é extremamente resiliente e capaz de suportar maus tratos, mesmo que consumados de forma mais ou menos contínua. Não se trata, portanto, de um caso de ameaça à saúde pública, mas sim de uma diminuição das propriedades, condicionantes muito mais delicadas e potencialmente mais difíceis de resolver e entender. Significa que, apesar de continuar bebível, e até potencialmente notável, o vinho perdeu muitas das suas qualidades e dos seus predicados iniciais, surgindo diminuído face às qualidades e ao seu perfil original.
Basta beber alguns vinhos portugueses noutros mercados, sobretudo nos países de clima mais quente e extremado e onde a rede de refrigeração é menos cuidada, para sentir as diferenças dos vinhos face aos testemunhos que ficaram em Portugal. Nem todos os vinhos sofrem o mal da mesma forma e alguns vinhos ou estilos viajam com mais facilidade que outros. Os vinhos generosos, por exemplo, vinhos como o Vinho do Porto, Vinho da Madeira ou Moscatel, são mais tenazes e sentem menos as agruras da viagem sobretudo, no caso do Vinho do Porto, os vinhos da família Tawny. Pelo contrário, os vinhos que mais sofrem são os brancos, especialmente os mais delicados, perdendo frequentemente muita da frescura inicial e desbaratando quase todas as subtilezas aromáticas originais, como que envelhecendo anos em escassos meses de vida.
Num mundo ideal, isto não aconteceria e o circuito de frio seria mantido em todos os momentos de viagem ou guarda. Infelizmente, sabemos que vivemos num mundo que está muito longe de ser perfeito. Se formos rigorosos, percebemos que este problema não é exclusivo dos mercados de exportação. Também em Portugal, independentemente de serem garrafeiras especializadas, lojas tradicionais, grandes superfícies, restaurantes ou hotelaria, independentemente de serem armazéns de logística ou carrinhas de distribuição a fazer entregas, se sentem os efeitos da falta de cuidado, a falta de conhecimento sobre as regras de conservação do vinho, ou a falta de incentivo para efectuar investimentos dispendiosos.
Quem sofre directamente com esta realidade somos nós, consumidores e compradores de vinho, bem como os produtores. As pequenas imperfeições que resultam da má conservação do vinho nem sempre são visíveis ou facilmente compreensíveis pelos consumidores que simplesmente, e naturalmente, penalizam o produtor pensando que o vinho “já foi melhor”…
FugasVinhos - Por Rui Falcão
Rosé português entre os cinco melhores do mundo
O vinho português Colecção Privada Domingos Soares Franco Moscatel Roxo Rosé 2013 foi considerado o 5.º melhor rosé do mundo pela edição de Agosto da revista especializada europeia The Drinks Business.
O Moscatel Roxo Rosé nacional conquistou 85 pontos e uma medalha de prata numa prova cega em que 'mestres vínicos' e 'mestres sommeliers' internacionais avaliaram vinhos rosés com preço acima de 10 euros de países tão diversos como França, Itália, EUA, Portugal ou Espanha.
De acordo com a AICEP, este rosé da José Maria da Fonseca é o único vinho português a surgir neste 'top', tendo sido premiado pelo júri da competição graças aos seus aromas "frutados", "notas florais" e "acidez vibrante".
Domingos Soares Franco, que assina o vinho galardoado, é o representante mais jovem da sexta geração da família que, desde a fundação, presidente aos destinos da produtora vinícola José Maria da Fonseca e é também o principal enólogo da casa.
O especialista criou o Colecção Privada Moscal Roxo Rosé 2013 como forma de explorar "a nobreza e subtileza das notas aromáticas da casta Moscatel Roxo", uma casta nobre e muito pouco comum.
Para além da revista mensal, a The Drinks Business, uma das mais prestigiadas publicações dedicadas às bebidas alcoólicas, detém ainda um site com uma audiência internacional de 460.000 leitores mensais e disponibiliza conteúdos para outras publicações como o The Huffington Post ou a Revista Time.
Fonte : Boas Notícias
O Moscatel Roxo Rosé nacional conquistou 85 pontos e uma medalha de prata numa prova cega em que 'mestres vínicos' e 'mestres sommeliers' internacionais avaliaram vinhos rosés com preço acima de 10 euros de países tão diversos como França, Itália, EUA, Portugal ou Espanha.
De acordo com a AICEP, este rosé da José Maria da Fonseca é o único vinho português a surgir neste 'top', tendo sido premiado pelo júri da competição graças aos seus aromas "frutados", "notas florais" e "acidez vibrante".
Domingos Soares Franco, que assina o vinho galardoado, é o representante mais jovem da sexta geração da família que, desde a fundação, presidente aos destinos da produtora vinícola José Maria da Fonseca e é também o principal enólogo da casa.
O especialista criou o Colecção Privada Moscal Roxo Rosé 2013 como forma de explorar "a nobreza e subtileza das notas aromáticas da casta Moscatel Roxo", uma casta nobre e muito pouco comum.
Para além da revista mensal, a The Drinks Business, uma das mais prestigiadas publicações dedicadas às bebidas alcoólicas, detém ainda um site com uma audiência internacional de 460.000 leitores mensais e disponibiliza conteúdos para outras publicações como o The Huffington Post ou a Revista Time.
Fonte : Boas Notícias
quarta-feira, fevereiro 26, 2014
CHILEAN WINE AMBASSADOR – 2014
Quer se tornar o embaixador dos vinhos chilenos no Brasil?
Durante os dias 1º e 2 de abril, acontece em São Paulo o Seminário Chilean Wine Ambassador. Fruto da parceria da Terruares, importadora de vinhos de alto conceito e organizadora de feiras e seminários exclusivos, com a Top Winemakers, o evento dirige-se aos profissionais e apreciadores do vinho chileno, com palestras e degustações de vinhos top do Chile. Ao final do evento, será escolhido o embaixador do vinho chileno no Brasil!
O seminário oferece uma verdadeira oportunidade para saber mais sobre esse incrível país, sua diversidade de estilos, terroirs, sabores, climas e riquezas vitivinícolas, uma viagem para aprender, sentir e degustar o Chile. Seu conceito é apresentar um Chile unido, integrado, um país com novas propostas de vinhos; mostrar sua riqueza por meio da diversidade de vales e estilos enológicos.
Chile em uma Garrafa
Será apresentado no Seminário o vinho Top Winemakers 100 Barricas do Chile, um projeto audacioso e inovador, que reúne em uma única garrafa as 100 melhores vinícolas do país. O resultado é surpreendente: um vinho singular, que reflete toda a diversidade, riqueza e potencial de criatividade enológica do Chile. Uma produção exclusiva do Chile para o mundo, que começa a ser explorado com exclusividade pelo Brasil.
O Seminário possui 220 vagas para sommeliers, salesman, confrarias, alunos da Wine & Spirit Education Trust, Wine Hunters, associações de sommeliers e grandes apreciadores e conhecedores do mundo do vinho.
Durante os dois dias, haverá apresentação de 13 Vales do Chile e degustação de 60 vinhos chilenos, representando cada zona vitivinícola. Entre os palestrantes estão: Rafael Prieto, diretor da Top Winemakers; Pablo Morandé, enólogo dos Vales Casablanca-Leyda-San Antonio, Valles Curicó e Maule; Felipe Uribe, enólogo dos Vales Cachapoal e Maipo; Renán Cancino, viticultor dos Vales Elquí-Limarí e Bio-Bio – Itata; Mario Geisse, enólogo dos Vales Colchagua, Bio-Bio, Itata, Malleco e Lago Ranco; e Marcelo Pino, sommelier Visão Sabores e Harmonização de todos os Vale. O moderador de todas as palestras será o sommelier e consultor Ariel Perez Navarro, idealizador do projeto junto a RafaelPrieto.
Os participantes terão oportunidade de conhecer vinhos chilenos, além de prospectar negócios com novas vinícolas e projetos para o Brasil. cada participante receberá um CD com o curso completo e material impresso, 6 taças ISO, um diploma de participação e um PIN com logo do Chilean Wine Ambassador.
Ao final do segundo dia, os participantes farão uma prova que selecionará 2 ganhadores, um homem e uma mulher, que ganharão o título “The Best Chilean Wine Ambassador”. O embaixador e a embaixatriz representarão o vinho do Chile no Brasil e viajarão para o Chile para conhecer todos os vales e seus vinhos in loco.
Uma oportunidade única aos amantes do vinho chileno!
Serviço:
Local do seminário: Clube Atlético São Paulo (SPAC) – Sede Higienópolis
Rua Visconde de Ouro Preto, 119 – Higienópolis
Horário: das 9h às 18h
Seminário Central Chilean Wine Ambassador - Inscrições, condições e valores:
Valor do investimento: R$ 1.200,00 (parcelado em até 6 vezes no cartão de crédito, depósito em conta ou boleto bancário).
Informações e vendas: vendas@terruares.com com Cristóbal Pérez Navarro
(11 98799-1796)
Feira de Vinhos
A partir das 18h30, acontece no mesmo espaço uma Feira com degustação de mais de 100 vinhos chilenos brancos, tintos e espumantes,
de 15 importadoras. Além disso, haverá degustação de Pisco e outros produtos de origem chilena.
Valor de investimento: R$ 120,00*
Horário: das 18h30 às 22h.
* Os participantes do Seminário Chilean Wine Ambassador terão acesso liberado à feira.
Durante os dias 1º e 2 de abril, acontece em São Paulo o Seminário Chilean Wine Ambassador. Fruto da parceria da Terruares, importadora de vinhos de alto conceito e organizadora de feiras e seminários exclusivos, com a Top Winemakers, o evento dirige-se aos profissionais e apreciadores do vinho chileno, com palestras e degustações de vinhos top do Chile. Ao final do evento, será escolhido o embaixador do vinho chileno no Brasil!
O seminário oferece uma verdadeira oportunidade para saber mais sobre esse incrível país, sua diversidade de estilos, terroirs, sabores, climas e riquezas vitivinícolas, uma viagem para aprender, sentir e degustar o Chile. Seu conceito é apresentar um Chile unido, integrado, um país com novas propostas de vinhos; mostrar sua riqueza por meio da diversidade de vales e estilos enológicos.
Chile em uma Garrafa
Será apresentado no Seminário o vinho Top Winemakers 100 Barricas do Chile, um projeto audacioso e inovador, que reúne em uma única garrafa as 100 melhores vinícolas do país. O resultado é surpreendente: um vinho singular, que reflete toda a diversidade, riqueza e potencial de criatividade enológica do Chile. Uma produção exclusiva do Chile para o mundo, que começa a ser explorado com exclusividade pelo Brasil.
O Seminário possui 220 vagas para sommeliers, salesman, confrarias, alunos da Wine & Spirit Education Trust, Wine Hunters, associações de sommeliers e grandes apreciadores e conhecedores do mundo do vinho.
Durante os dois dias, haverá apresentação de 13 Vales do Chile e degustação de 60 vinhos chilenos, representando cada zona vitivinícola. Entre os palestrantes estão: Rafael Prieto, diretor da Top Winemakers; Pablo Morandé, enólogo dos Vales Casablanca-Leyda-San Antonio, Valles Curicó e Maule; Felipe Uribe, enólogo dos Vales Cachapoal e Maipo; Renán Cancino, viticultor dos Vales Elquí-Limarí e Bio-Bio – Itata; Mario Geisse, enólogo dos Vales Colchagua, Bio-Bio, Itata, Malleco e Lago Ranco; e Marcelo Pino, sommelier Visão Sabores e Harmonização de todos os Vale. O moderador de todas as palestras será o sommelier e consultor Ariel Perez Navarro, idealizador do projeto junto a RafaelPrieto.
Os participantes terão oportunidade de conhecer vinhos chilenos, além de prospectar negócios com novas vinícolas e projetos para o Brasil. cada participante receberá um CD com o curso completo e material impresso, 6 taças ISO, um diploma de participação e um PIN com logo do Chilean Wine Ambassador.
Ao final do segundo dia, os participantes farão uma prova que selecionará 2 ganhadores, um homem e uma mulher, que ganharão o título “The Best Chilean Wine Ambassador”. O embaixador e a embaixatriz representarão o vinho do Chile no Brasil e viajarão para o Chile para conhecer todos os vales e seus vinhos in loco.
Uma oportunidade única aos amantes do vinho chileno!
Serviço:
Local do seminário: Clube Atlético São Paulo (SPAC) – Sede Higienópolis
Rua Visconde de Ouro Preto, 119 – Higienópolis
Horário: das 9h às 18h
Seminário Central Chilean Wine Ambassador - Inscrições, condições e valores:
Valor do investimento: R$ 1.200,00 (parcelado em até 6 vezes no cartão de crédito, depósito em conta ou boleto bancário).
Informações e vendas: vendas@terruares.com com Cristóbal Pérez Navarro
(11 98799-1796)
Feira de Vinhos
A partir das 18h30, acontece no mesmo espaço uma Feira com degustação de mais de 100 vinhos chilenos brancos, tintos e espumantes,
de 15 importadoras. Além disso, haverá degustação de Pisco e outros produtos de origem chilena.
Valor de investimento: R$ 120,00*
Horário: das 18h30 às 22h.
* Os participantes do Seminário Chilean Wine Ambassador terão acesso liberado à feira.
terça-feira, janeiro 07, 2014
O vinho revelação do Chile chega à Buywine
Imagine um vinho que você pode beber a garrafa toda sem perceber, como se ela fosse um suco de framboesas e cerejas. É quase viciante! Este é o novo vinho da vinícola Reserva de Caliboro.
O Erasmo é desde vários anos uma marca bem conhecida no Brasil. Em 2012, no guia Descorchados, foi eleito o número um na categoria “Vinhos Tintos” onde competem todos grandes nomes da viticultura chilena, como Almaviva, Don Melchor, Seña, Viñedos Chadwick, Montes M, Caballo Loco e todos esses vinhos ícones que o Chile produz. O Erasmo com a sua safra 2007 superou todos estes Ultra Premiums chilenos, e o motivo da ”febre” por conseguir uma garrafa de Erasmo 2007 se entende já que o preço é pelo menos umas cinco vezes menos que os outros vinhos da lista acima.
Mas a ideia deste post não é falar do Erasmo que todos conhecem, e muito menos de comparar com os outros vinhos de Chile ou discutir se mereceu o não ser o melhor vinho tinto do Chile, isso cada um pode ter a sua própria opinião, como dever ser quando se trata de vinhos.
Eu queria dedicar estas linhas para falar sobre a feliz surpresa que esta vinícola apresentou a pouco tempo no Chile é que esta semana acaba de estrear na Buywine, trata-se do Erasmo Barbera – Garnacha 2013, um tinto que já está dando muito o que falar no Chile e tudo indica de que vai cativar muitos paladares também aqui no Brasil.
Este Erasmo é um vinho que nunca passou por madeiras, pelo tanto todos os seus atributos provem única e exclusivamente da própria fruta, ou seja, das uvas que deram vida a este tinto fresco e delicioso. A graça do vinho é principalmente seu estilo, puro, fresco, jovial, e são vários os segredos que poderiam, segundo minha forma de ver, explicar como esta vinícola conseguiu produzir este vinho tão diferente:
O sangue italiano:
Francesco Marone Cinzano, o conde, (também proprietário da vinícola Col D’Orcia em Montalcino, Itália) não pode, mesmo que ele queira, produzir vinhos que não tenham sua assinatura, e esta é a forma quase natural na qual ele consegue um raro equilíbrio nos vinhos, é só se focar na textura dos taninos deste vinho que vão entender do que me estou referindo. Um vinho safra 2013 que tem taninos que acariciam a língua como se tratasse de um vinho evoluído e pronto para beber, e não pensem que o vinho é levinho, porque não é, até parece um vinho pelo menos de concentração média ou até completa, concentrado, mais ao mesmo tempo fresco e frutado ao extremo.
O Maule:
Sem dúvida e mesmo que não tenha nada a ver com seu irmão maior já que é um estilo oposto (Erasmo Assemblage) dá para sentir uma forte ligação com o clima frio deste vale, e não podemos esquecer que fica lá no final do extremo sul da viticultura chilena, a mais de 500 quilômetros sentido sul, da capital do Chile, Santiago. Os vinhos deste vale, sem exceção (exceto os ruins), têm uma espécie de “marca registrada” trata-se de sua acidez (quase mineral) que entrega equilíbrio, nervo e vivacidade e deixa os vinhos com um final de boca muito mais longos, com uma irresistível frutosidade. É essa acidez a que faz, muitas vezes, (quando degustamos “as cegas” os vinhos desta região) pensar que não são chilenos. De fato, muitas vezes parecem vinho mais de Bordeaux na França ou Chianti na Itália do que do Chile
As Uvas Mediterrâneas:
A Barbera que produz vinhos deliciosos no norte de Itália e a Garnacha (o Grenache na França) muito famosa no sul da Espanha e na França, se unem e são complementadas pela também mediterrânea, e cada dia mais chilena Carignan, então o resultado não podia ser diferente.
A propósito de verão, considerando que estamos começando o ano 2014 e as temperaturas estão lá no alto, não consigo imaginar um vinho tinto mais adequado que este para beber durante este verão. É como um Beaujolais, mais de altíssima qualidade, (tem 91 pontos em Descorchados 2014).
Imagino este vinho num churrasco, claro que tem que ser servido numa temperatura baixinha, uns 13 a 14 graus dependendo de como esteja o clima. Se esta muito quente, podem baixar ate os 12 graus inclusive. Há…para aqueles que estão começando a beber vinhos tintos, ou gostam de vinhos “suaves” (meios doces) experimentem este tinto, mais tenham cuidado que ele é altamente “viciante” e a garrafa acaba em coisas de minutos. Tal como falei no começo do Post, este novo Erasmo é uma revelação, mais além disso tem a magia de representar o lado mais puro desta bebida, sem maquiagem, só fruta fresca que apaixona ao primeiro gole.
Fonte : Vinho Em Prosa
O Erasmo é desde vários anos uma marca bem conhecida no Brasil. Em 2012, no guia Descorchados, foi eleito o número um na categoria “Vinhos Tintos” onde competem todos grandes nomes da viticultura chilena, como Almaviva, Don Melchor, Seña, Viñedos Chadwick, Montes M, Caballo Loco e todos esses vinhos ícones que o Chile produz. O Erasmo com a sua safra 2007 superou todos estes Ultra Premiums chilenos, e o motivo da ”febre” por conseguir uma garrafa de Erasmo 2007 se entende já que o preço é pelo menos umas cinco vezes menos que os outros vinhos da lista acima.
Mas a ideia deste post não é falar do Erasmo que todos conhecem, e muito menos de comparar com os outros vinhos de Chile ou discutir se mereceu o não ser o melhor vinho tinto do Chile, isso cada um pode ter a sua própria opinião, como dever ser quando se trata de vinhos.
Eu queria dedicar estas linhas para falar sobre a feliz surpresa que esta vinícola apresentou a pouco tempo no Chile é que esta semana acaba de estrear na Buywine, trata-se do Erasmo Barbera – Garnacha 2013, um tinto que já está dando muito o que falar no Chile e tudo indica de que vai cativar muitos paladares também aqui no Brasil.
Este Erasmo é um vinho que nunca passou por madeiras, pelo tanto todos os seus atributos provem única e exclusivamente da própria fruta, ou seja, das uvas que deram vida a este tinto fresco e delicioso. A graça do vinho é principalmente seu estilo, puro, fresco, jovial, e são vários os segredos que poderiam, segundo minha forma de ver, explicar como esta vinícola conseguiu produzir este vinho tão diferente:
O sangue italiano:
Francesco Marone Cinzano, o conde, (também proprietário da vinícola Col D’Orcia em Montalcino, Itália) não pode, mesmo que ele queira, produzir vinhos que não tenham sua assinatura, e esta é a forma quase natural na qual ele consegue um raro equilíbrio nos vinhos, é só se focar na textura dos taninos deste vinho que vão entender do que me estou referindo. Um vinho safra 2013 que tem taninos que acariciam a língua como se tratasse de um vinho evoluído e pronto para beber, e não pensem que o vinho é levinho, porque não é, até parece um vinho pelo menos de concentração média ou até completa, concentrado, mais ao mesmo tempo fresco e frutado ao extremo.
O Maule:
Sem dúvida e mesmo que não tenha nada a ver com seu irmão maior já que é um estilo oposto (Erasmo Assemblage) dá para sentir uma forte ligação com o clima frio deste vale, e não podemos esquecer que fica lá no final do extremo sul da viticultura chilena, a mais de 500 quilômetros sentido sul, da capital do Chile, Santiago. Os vinhos deste vale, sem exceção (exceto os ruins), têm uma espécie de “marca registrada” trata-se de sua acidez (quase mineral) que entrega equilíbrio, nervo e vivacidade e deixa os vinhos com um final de boca muito mais longos, com uma irresistível frutosidade. É essa acidez a que faz, muitas vezes, (quando degustamos “as cegas” os vinhos desta região) pensar que não são chilenos. De fato, muitas vezes parecem vinho mais de Bordeaux na França ou Chianti na Itália do que do Chile
As Uvas Mediterrâneas:
A Barbera que produz vinhos deliciosos no norte de Itália e a Garnacha (o Grenache na França) muito famosa no sul da Espanha e na França, se unem e são complementadas pela também mediterrânea, e cada dia mais chilena Carignan, então o resultado não podia ser diferente.
A propósito de verão, considerando que estamos começando o ano 2014 e as temperaturas estão lá no alto, não consigo imaginar um vinho tinto mais adequado que este para beber durante este verão. É como um Beaujolais, mais de altíssima qualidade, (tem 91 pontos em Descorchados 2014).
Imagino este vinho num churrasco, claro que tem que ser servido numa temperatura baixinha, uns 13 a 14 graus dependendo de como esteja o clima. Se esta muito quente, podem baixar ate os 12 graus inclusive. Há…para aqueles que estão começando a beber vinhos tintos, ou gostam de vinhos “suaves” (meios doces) experimentem este tinto, mais tenham cuidado que ele é altamente “viciante” e a garrafa acaba em coisas de minutos. Tal como falei no começo do Post, este novo Erasmo é uma revelação, mais além disso tem a magia de representar o lado mais puro desta bebida, sem maquiagem, só fruta fresca que apaixona ao primeiro gole.
Fonte : Vinho Em Prosa
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