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terça-feira, setembro 08, 2015

Os superstars do vinho

“Born to Run”, o disco que levou Bruce Springsteen ao sucesso nacional, completou seu quadragésimo aniversário na semana passada.

Os fãs de Bruce adoram contar a história que está por trás do disco. O ‘Boss’ lançou dois discos em 1973. Embora os críticos tenham elogiado os dois, ambos fracassaram. Assim, “Born to Run” seria sua última oportunidade. Peter Ames Carlin, biógrafo de Springsteen, conta que a “Columbia [Records] forneceu para Bruce e banda somente os recursos necessários para gravar uma música. Desse jeito, ele poderia provar que era capaz de fazer um hit de sucesso e fazer valer a gravação de um possível disco seguinte. Eis porque [a banda] levou seis meses para gravar a música que acabou dando nome ao disco, ‘Born to Run’. Cada nota tinha de ser perfeita, senão eles corriam o risco de voltar de mãos vazias para Asbury Park.”

Quando os executivos da Columbia ouviram a gravação, resolveram contratar Bruce para mais um disco. Sabiam que aquele nativo do Garden State de 26 anos se tornaria um superstar.

Da mesma forma, muitos dos grandes vinhos da história quase não chegaram lá.

Vejamos os vinhos que saíram vitoriosos do “Julgamento de Paris”, uma disputa entre vinhos californianos e franceses realizada em 1976. Todo mundo pensou que a França ganharia, mas os vencedores – Chateau Montelena Chardonnay 1973 e o Cabernet Sauvignon 1973 da vinícola Stag’s Leap – vieram ambos da Califórnia. O feito revolucionou a indústria do vinho americana. Mesmo assim, os dois vinhos quase não aconteceram.

A história da vinícola Stag’s Leap começou em 1969. Naquele ano, Warren Winiarski, ex-produtor da Robert Mondavi, provou um Cabernet Sauvignon caseiro do vinhateiro Nathan Fay. O vinho funcionou como uma epifania para Winiarski; a bebida reunia tudo que ele amava no Napa Valley. Logo, ele comprou 44 acres de terras vizinhas às de Fay. Arrancou tudo que estava plantado e semeou uvas Cabernet Sauvignon e Merlot.

Se Winiarski não tivesse provado o vinho caseiro de Fay – e não tivesse os recursos para comprar as terras – o Château Mouton-Rothschild teria vencido o Julgamento de Paris.

Na Château Montelena, o produtor Mike Grgich temia pelo emprego depois de aprontar o seu Chardonnay 1972. Grgich expôs o vinho a tão pouca oxigenação durante a produção que uma enzima amarronzada resistiu por dois meses no vinho depois do engarrafamento. Se o vinho tivesse permanecido marrom – e Grgich perdido o emprego – ele não teria terminado seu Chardonnay 1973, e o Meursault-Charmes da Domaine Roulot teria vencido.

O mais famoso ‘cult’ Cabernet de Napa, o Screaming Eagle, tem origens numa lata de lixo.

Em 1976, a corretora de imóveis Jean Phillips comprou 57 acres em Oakville, ma Califórnia. A maior parte das terras cultivava variedades de branco. Mas um acre continha vinhas Cabernet Sauvignon, das quais ele fez um vinho numa lata de lixo de plástico. Curiosa a respeito das possibilidades de seu vinho caseiro, Phillips levou uma amostra aos especialistas da vinícola Robert Mondavi, que imediatamente recomendaram a sua produção comercial. Assim, em 1992 Phillips contratou Richard Peterson, um renomado consultor, e sua filha, Heidi Barrett. O novo vinho alcançou 99 pontos na escala de Robert Parker e vendeu-se imediatamente.

É difícil imaginar Bruce Sprinsteen esquecido para sempre, assim como não é fácil imaginar qualquer um desses vinhos longe dos enófilos apaixonados.

Nos vinhos, assim como nas artes, os sucessos acidentais são abundantes.
Por David White

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